quinta-feira, 31 de julho de 2014

Causos Militares em Brasil Anedótico VI


A GRANDE DIFERENÇA
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 20.
Manhã de 15 de novembro de 1889. Em frente ao quartel-general Deodoro punha em linha as bocas de fogo da tropa revoltada. Ignorando toda a extensão da conspiração militar, o Visconde de Ouro-Preto chama Floriano e pergunta por que as forças fiéis ao governo não saíam, para dar combate à força rebelde.

- É que Deodoro tem artilharia e, em cinco minutos, arrasaria o quartel-general, - respondeu o mestre de campo.
Ouro-Preto estranhou a resposta:

- No Paraguai tomava-se artilharia; só se aquela não pode ser tomada por estar comandada por um general valente...
- Não, não é por isso, - revidou Floriano, compreendendo a ironia.

E no mesmo tom:
- É que no Paraguai eram inimigos, e ali são brasileiros!

A QUEIXA DOS TUPINAMBÁS
Jean de Lery - "História de uma viagem à terra do Brasil", ed. De 1926, pág. 154.
Quando Nicolau de Villegaignon se fixou na baía do Rio de Janeiro, em 1555, os índios tupinambás, que habitavam o litoral, achavam-se na guerra com a tribo dos maracajás, cujos prisioneiros eram todos devorados. Para impedir a continuação da antropofagia, procurava o conquistador francês adquirir por compra todos os prisioneiros, salvando-os, assim, da voracidade do inimigo.

Essa interferência do hóspede branco negócios da raça não agradava nada aos tupinambás, um dos quais se queixava, num suspiro a Jean de Lery:
- Não sei o que será de nós, de agora em diante!... Depois que Paicolás (nome davam a Villegaignon) veio para a ilha, não comemos nem a metade dos nossos prisioneiros!...

HONESTIDADE DE MINISTRO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 83.
Era José Bernardino Batista Pereira de Almeida Sodré ministro da Fazenda, em 1828, quando o seu colega da pasta da Guerra lhe oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento, mandou Pedro I chamar José Bernardino, interpelando-o.

- Senhor, - respondeu o ministro, - no orçamento que vigora não tenho verba que autorize essa despesa; ela é, portanto, ilegal, e eu não a posso ordenar.
- Mandei engajar esses homens, - tornou o Imperador, com energia; - quero que as despesas sejam pagas.

- E se-lo-ão, Senhor; pois que Vossa Majestade o quer.
Dias depois, indagado pelo monarca sobre o cumprimento da sua ordem, o ministro informou:

- Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a esses engajados; a ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.
- E então?

- Paguei-os de meu bolso particular!

BATUTA DE MARINHEIRO
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 151.
Era o capitão-tenente Bento José de Carvalho, irmão do Visconde de Inhaúma, comandante da corveta Isabel, quando esta naufragou, em 1859, nas costas de Marrocos.

O sinistro ocorreu durante uma tempestade. As ondas, enormes e furiosas, varriam o navio, quando este, rebentado o casco e partidos os mastros, começou a afundar-se.
- A vida de um comandante, depois do naufrágio, é fardo que não se deve disputar às ondas! - gritou, em desespero, o bravo marujo.

E atirou-se ao abismo.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog