quarta-feira, 22 de julho de 2015

ELA, A RAINHA


Antero Coelho Neto (*)
Sempre tenho me dedicado muito aos idosos. Por isso, a minha luta, desde quando fui para a Organização Mundial da Saúde, pela longevidade com qualidade de vida da população. E passei a estudá-los nas suas diferentes perspectivas atuais e possibilidades futuras de vida. Vários exemplos de idosos passaram a ser, então, importantes para mim.
Hoje, lembro para vocês uma vida que serve de exemplo. Era o ano de 1935. Nessa noite, as moças da família estavam em ansiosa e alvoraçada animação. Preparavam-se para sair e, nos meus tranquilos 5 anos, fui levado pela mão por uma irmã. Não sabia para onde me levavam, mas falavam de ver uma rainha.
Chegamos próximo ao Parque da Liberdade ou Cidade das Crianças. Era lá o “castelo”. Havia enorme multidão curiosa em frente a uma casa bonita, senhorial, de janelas grandes, toda iluminada para a grande festa que movimentava toda a cidade. Era a coroação da Rainha do Estudante e aquele palacete era sua casa. Dali ela iria ao Theatro José de Alencar para assumir o seu reinado.
Enfim, surgiu a rainha, loura, linda, majestosa nos seus 18 anos. Seu nome era Suzana Dias. Eu, encantado com aquela visão mágica, estava fascinado pela beleza da primeira rainha que eu via ao vivo.
Muito mais tarde, por caprichos do destino, conheci outras rainhas. Em Brasília, a rainha Elizabeth da Inglaterra e, em Caracas, a rainha Beatriz, da Holanda. Mas nenhuma delas se comparava ao que eu vira deslumbrado.
Suzana era aluna do Imaculada Conceição e destacava-se pela dedicação aos estudos. Diplomada como professora, exerceu o magistério como excelente educadora.
Sempre amou os livros e, assim, construiu uma vasta cultura que é a sua marca pessoal. Muitos anos depois, quis o destino que a rainha Suzana se tornasse minha tia-afim, por meu casamento com sua sobrinha. Casou-se jovem e, com o médico José Carlos da Costa Ribeiro, tiveram quatro filhas e um filho. Netos e bisnetos compõem sua descendência numerosa.
Ao longo desses últimos 60 anos, passei a admirar sua presença forte e extraordinária personalidade agregadora e seus estilos de vida. Sua família e seus amigos são cuidados com desvelo e carinho.
Lúcida, criativa, matriarcal e, sempre antenada à modernidade, lançou aos 96 anos, um livro, com a presença de muitos amigos, com suas receitas e de parentes. É membro da Academia Fortalezense de Letras e foi fundadora da Sociedade Amigas do Livro.
Hoje, a caminho dos 98 anos, sempre altiva, elegante, sensível, generosa e determinada, é um notável exemplo de longevidade, resistindo, ao leme e com firmeza, às limitações que o tempo nos impõe.
Em 2010, quando fui presidente da Academia Cearense de Medicina, de cujo marido, José Carlos Ribeiro foi um dos seus importantes fundadores, tive a oportunidade de estabelecer a simbólica “Cadeira Sempre Presente” que Suzana Ribeiro usa nas solenidades. Ela participa ativamente de quase todas as reuniões festivas.
E que fique, para todos, a certeza do que a pesquisa vem demonstrando há vários anos: 60% a 70% da nossa longevidade depende dos estilos saudáveis de vida; 20%, da genética; 10%, do ambiente que vivemos e trabalhamos; e 10% apenas dos cuidados médicos. Vamos pensar na Suzana?
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 24/6/2015. p.8.
Nota do Editor do Blog: Conheço D. Suzana há quase quarenta anos e privo da sua amizade. Ela e seu esposo foram os meus padrinhos do casamento religioso em 7/02/1981.
Marcelo Gurgel

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