Professoras tiram
dúvidas de português por telefone em Fortaleza
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Criado há 35 anos, serviço de português já recebeu até pergunta sobre sexo
Em Fortaleza,
um serviço que tira dúvidas de português por telefone funciona há 35 anos. Em
1980, quando os softwares de edição de texto e a internet existiam apenas em
filmes de ficção, o servidor cearense Agnelo Neves pensou em criar uma opção
prática e gratuita para ajudar as pessoas a tirarem dúvidas de português.
Então
presidente do Instituto Municipal de Pesquisa Administração e Recursos Humanos,
Neves levou a ideia ao prefeito para criar o "Plantão Gramatical".
"Na época, estava me preparando para despachar com o
prefeito e tive essa ideia. Apresentei, e ele concordou plenamente. Peguei um
professor que estava lá como diretor de departamento e chamei um outro colega
que estudava comigo. Essa dupla começou o serviço", conta.
Histórias curiosas
O plantão
funciona das 8h às 18h e conta com sete professores que se revezam nos
atendimentos. O mais antigo deles é Francisco Marino Neto, que foi convidado a participar do serviço há 22 anos.
Marino conta
que os motivos das ligações são os mais variados possíveis e apresentam
características sazonais. "No caso do
acordo ortográfico, a questão do emprego do hífen deu um 'boom' em 2010, mas
depois foi caindo", explica.
Mas nem só de
dúvidas de português vive o serviço, algumas delas são embaraçosas. "Já ligaram para pedir orientação de como se usa tabela,
para evitar filho", lembra.
Neves relata
que, no início, houve problemas com os "engraçadinhos" que ligavam
para fazer piada com os professores. "No
começo, na implantação, teve perguntas jocosas que prefiro não dizer. Eram
coisas imorais, e que o professor respondia dentro de um diapasão gramatical,
dizia como escrevia a palavra de baixo calão [palavrões, por exemplo]",
lembrou, dizendo que hoje a situação é diferente.
Às vezes, as
ligações causam até briga entre os interessados e embaraço ao atendente. "Uma vez ligaram de um sítio, onde fizeram uma aposta de
um engradado de cerveja e um bode, para saber se botava o nome do sítio de 'os
Maia' ou 'os Maias'. Aí disse que bastava olhar o livro de Eça de Queiroz e ver
que o certo é 'os Maias'. Foi uma confusão lá, ouvia as reclamações", relata,
complementando: "Às vezes a resposta
não condiz com o que a pessoa quer ouvir, e a pessoa é grosseira. Mas graças a
Deus não é comum".
Para dar
direito a que várias pessoas tenham acesso ao serviço, cada ligação não deve
durar mais que três minutos. Mesmo sem o serviço de identificação de chamadas,
em alguns casos as vozes já são conhecidas.
"Uma determinada vez, uma senhora estava escrevendo um
livro e acho que não queria pagar um revisor e ligou inúmeras vezes para tirar
dúvidas. Só eu devo ter atendido umas 100 ligações dela", diz.
E como não
poderia deixar de ser, o professor Marino Neto não deixa passar batido e faz um
alerta sobre o tema do momento na política: as investigações na Petrobras.
"Todo mundo fala Lava-Jato. Está
errado! O certo, depois do acordo ortográfico, é 'lava a jato', que significa
lavar muito rapidamente. Até 31 de dezembro de 2015 você ainda pode usar o
hífen: lava-a-jato. Mas um 'lava-jato', com certeza o dono iria falir, pois
onde iria arrumar jatos para lavar?", questiona, sem perder o bom
humor.
Serviço gratuito
O serviço
telefônico é público, gratuito e engana-se quem pensa que a tecnologia afastou
os usuários: somente nos 100 primeiros dias do ano foram 2.600 atendimentos.
Até o dia 10 de abril, foram 657 mil ajudas feitas em sua longa trajetória.
À época do
lançamento, os telefones ainda eram artigo de luxo e existia em poucas casas. O
plantão fazia a maioria das consultas pessoalmente. Hoje, os atendimentos são
por telefone.
Neves ainda é servidor
do mesmo órgão que presidiu, onde iniciou carreira há 39 anos. E não pensa em
se aposentar tão cedo. "Quero seguir trabalhando, servindo a população da
melhor forma possível. Tenho muito amor e dedicação. acho que por isso exerço
cargo de confiança há 31 anos, um recorde nacional", explicou.
O plantão
funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas e o número de atendimento
é (85) 3225-1979.
Fonte: UOL Notícias, de 24/4/2015.
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