sexta-feira, 3 de julho de 2015

SURDOS AO CLAMOR DO POVO

Por Affonso Taboza (*)
"Sobre a superlotação das cadeias, a solução seria deixar bandidos à solta, matando a esmo?"
É uma pena. Nossos representantes em Brasília, com exceções, vivem noutro planeta. Votam projetos de lei importantes alheios aos anseios de quem lhes deu um voto de confiança. Estão no Congresso como procuradores do povo, mas se recusam a agir como deseja quem lhes outorgou a procuração. Daí o descrédito nas duas casas.
A imprensa tem noticiado que cerca de 90% dos habitantes do País são favoráveis à maioridade penal aos 16 anos. Mas ontem veio a decepção, a proposta foi derrotada. Lamentável. Mas vêm outras votações capazes de repor o trem nos trilhos, se os senhores parlamentares se lembrarem de que não são donos de seus votos.
Mitos correntes: 1) Os menores criminosos são vítimas da sociedade; provêm de famílias desestruturadas, muito pobres, às vezes de pais usuários de drogas. 2) A culpa da delinquência juvenil é da sociedade que não lhes dá oportunidade. É a visão boazinha; em parte verdadeira, em parte falsa.
Atribuir à pobreza o comportamento criminoso de jovens nascidos e criados nesse ambiente é uma tentativa míope de simplificação de assunto complexo. O ambiente é propício, mas o ingresso no mundo do crime depende da decisão de cada um. Não fosse assim, não haveria mente sã entre os jovens favelados.
Também é falso atribuir à sociedade a culpa desses desvios. As oportunidades estão aí, é só correr atrás. E muitos rapazes pobres conseguem. Mas alguns acham que pegar uma arma e sair matando seus semelhantes é mais fácil que mourejar um dia inteiro no trabalho e à noite ir pra escola. Questão de opção. A ditadura do politicamente correto define as cadeias como locais de ressocialização. Meia verdade. Elas foram concebidas como locais de punição.
Desculpas: 1) A maioridade aos 16 não resolve a criminalidade. 2) As cadeias estão superlotadas. Ora, a maioridade aos 16 não resolve, mas ajuda a resolver. Não há solução única para problema complexo. Sobre a superlotação das cadeias, a solução seria deixar bandidos à solta, matando a esmo? Contamina o País uma estranha ideologia que inverte o conceito de direitos humanos - humano é o bandido, a vítima não.
Novas votações vêm por aí. Espera-se de deputados e senadores que legitimem sua representação. Cerrem fileira com a maioria, de costas para os pregoeiros dessa ideologia nefasta, que vem deixando o Brasil de cabeça pra baixo.
(*) Engenheiro civil e militar, e membro do Instituto do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo. Fortaleza, 2/07/2015. Opinião. p.11.

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