terça-feira, 7 de julho de 2015

MINISTROS E CONTÍNUOS


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Fico surpreso com o comportamento midiático sobre a escolha e a posse do ministério do atual mandato presidencial, martelando os nossos sentimentos e inteligência, impiedosamente — argumentum ad nauseam (argumentação até provocar náusea), como se fôssemos todos idiotas. Como se tais ministros tivessem realmente algum Poder.
Nessas horas procuro abrandar esse desgosto passeando pelos textos do jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980), oficial do mesmo ofício desses seus colegas que tentam impingir fatos camuflados à maioria de nós, quando o seu dever seria esclarecer ainda mais o público. Cada vez gosto mais dos profissionais do jornalismo do passado, quando existia mais seriedade e menos recursos tecnológicos. Afirmaria até que, com os avanços da informática, é cada dia mais premente a necessidade de contarmos com jornalistas bons e honestos. Urgente.
Volto a Nelson Rodrigues, quando escreve:
Nos tempos de Getúlio Vargas, um dos seus ministros explodiu: — “Sou um ministro de Estado e não um amanuense!” Era um amanuense e não um ministro de Estado. O ministro que ele imaginava ser não existia. O que existia de concreto no tal ministro era o amanuense. Ou nem isso.
Em verdade, o ministro é, acima de tudo, um contínuo (empregado de repartições públicas ou estabelecimentos que leva e traz papéis, transmite recados e faz outros pequenos serviços, segundo diz o dicionário Aurélio sobre este verbete, na sua última edição).
As pessoas se esquecem de que homens e mulheres não nasceram para serem grandes. Um mínimo de grandeza já os desumaniza. Por exemplo: — um Ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se tivesse algodão por dentro e não entranhas vivas.
Por isso digo: ou o Ministro é um Benjamin Disraeli (1804-1881), um Otto von Bismarck (1815-1898) ou um Winston Churchill (1874-1965) e o demonstra, ou não passa de um contínuo. No caso das mulheres, o mesmo acontece. A ministra teria de ser uma Margareth Thatcher (1924-2013) ou uma Golda Meir (1898-1978), para ficar apenas com estas duas, por razões sentimentais. A régua que permite separar os verdadeiros ministros ou ministras obedece à mesma norma.
Para provar isto digo:
— Não existe ninguém mais vago, mais irrelevante do que um ex-ministro. Concordo com que dizia o Nelson, em parte: um ministro não passa de um contínuo de luxo com direito a água-gelada, cafezinho, casaca e carro-oficial.
Digo que, em parte, as coisas mudaram, recentemente. Foi-se o tempo em que a casaca bastava... O que funciona agora é a demissão, para aquele ou aquela que não cumpra as ordens de quem os nomeou. O que vale é quem foi eleito e não nomeado.  Ministro é como executivo de uma grande empresa. Pode ser demitido e perde todas as mordomias. Fica desempregado.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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