Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Os americanos dizem, e minha mãe repetia: “an apple
a day keeps the doctor away”: uma maçã por dia mantém o médico a distância. No
artigo anterior, abordamos alguns aspectos da ciência da alimentação, complexo
ramo da biomedicina já com foros de cátedra. Impôs-nos, contudo, nosso espaço a
restrição de itens relevantes comentados abaixo. Tratados antigos valorizam
sobremaneira os “frutos da terra”, entre eles hortaliças e verduras: alface,
espinafre, couve, salsa, couve-flor, brócolis, aspargo, palmito, repolho,
agrião; item favas, ervilhas, grãos, lentilhas, feijões, arroz. Seu consumo é
exaltado por vegetarianos, herbívoros, veganos, ou fitófagos (do grego “phyton”
= planta). Cientificamente sobra-lhes razão.
Na Faculdade de
Medicina da UFC, nossos alunos estranhavam quando aconselhávamos “comer mato”,
i. e., vegetais (25g/dia), pelo seu alto teor em fibras. Estas são
imprescindíveis à saúde, segundo constatado por Burkitt, ao estudar africanos
primitivos. Aliados a carnes brancas (peixes, aves), constituem a chamada
“dieta mediterrânea” (ou “pitagórica”!), há muito praticada. Achados
paleontológicos (do homem pré-histórico: do grego “palaiós”= antigo)
encontraram restos de 55 tipos de plantas comestíveis, em Israel, 780 mil atrás
(“Folha de S. Paulo”, 21/1/2017). A falta delas predispõe ao câncer colo-retal,
à diverticulite, ao AVC (fineza ler nosso artigo aqui, de 14/XII/1991).
As vitaminas
quedaram ignoradas até 1912, quando o químico polonês Casimir Funk, estudando o
farelo do arroz, detectou um nutriente não mineral, ao qual denominou
“tiamina”, inaugurando o conceito de “vitaminas”, esta sendo a primeira (B1).
Sabe-se serem as mesmas componentes normais dos alimentos, até encontradas ali
em quantidades adequadas. Não obstante, em 2002, o respeitável “Journal of the
American Medical Association” afirmou que a alimentação apenas não consegue
prover a maioria das vitaminas nas concentrações recomendadas. Entre as ditas
“essenciais”, situam-se a vitamina C (1932) (2g/dia), os 12 tipos do
reconhecido Complexo B, além das referidas como A, D, E. Consumidas – hoje
obsessivamente – com determinados minerais rotulados nutritivos (cálcio,
magnésio, potássio, Zn, iodo, sódio, ferro, selênio) agem como suplementos
dietéticos.
Destarte
forneceriam nutrição sem comida e bem-estar sem remédio. Tais produtos, também
em tabletes ou barras energéticas, foram batizados em 1989 como “nutricêuticos”
pelo dr. Stephen De Felice. Atualmente (dados de 2011) os americanos gastam U$
28 bilhões/ano em vitaminas, juntamente com ômega-3 (dos peixes), pro-bióticos
(bactérias salutares) e antioxidantes, principalmente para glória da indústria
farmacêutica. Curiosamente, em 1956, nosso patrício A. da Silva Melo assegurava
já estar perto o dia quando o culto exagerado de vitaminas se transformaria na
“mais ridícula e grosseira das pantomimas”. Há algum tempo lemos que um certo
sr. John Cloud (nos EUA), após exames rotineiros de sangue, submeteu-se a um
regime nutricêutico. Por cinco meses, ingeriu 3.000 desses produtos mistos (22
pílulas/dia).
Os resultados
registrados foram irrelevantes, tendo ocorrido apenas aumento da vitamina D, e
do HDL, o colesterol “bom”. Curiosamente, a profecia do cientista brasileiro
acima mencionada ratificaria a conclusão a que chegara, em 1940, o dr. Ernst
Boas, famoso cardiologista da Universidade de Columbia: o negócio das vitaminas
é “a mais execrável fraude já perpetrada contra o povo” (“The damnedest racket
ever perpetrated upon the people”). E agora, José? É óbvio concluir que o mais
importante é se alimentar corretamente, sabendo o que comer.
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 22/03/2017. Opinião, p.14.
Fonte: O Povo, 22/03/2017. Opinião, p.14.
Um comentário:
An apple a day keeps the doctor away. But if the doctor is cute forget the fruit.
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