Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
Entendo que a luta contra a corrupção, as
superposições estruturais e funcionais, o desperdício e a má gestão representam
a realização dos princípios republicanos, a serem buscados nas crises, também
antes delas, para prevenir pelo menos uma das dimensões dos colapsos do Estado
Capitalista Contemporâneo, que se organiza em três grandes setores:
competitivo, monopolista, estatal.
Diz-nos James O’Connor que o orçamento estatal tem dois
tipos: despesa social (ex: aparelho policial) e capital social, este último
desdobrando-se nas modalidades de consumo social (ex: Bolsa Família) e de
investimento social (exs: infraestrutura viária, educação, saúde). O
crescimento do orçamento estatal expande a produção global e o setor
monopolista, mas exige carga tributária crescente que agrava o setor
competitivo. No orçamento global inelástico, despesa social e capital social
crescem à custa um do outro, o mesmo entre consumo e investimento, gerando
crises econômicas, sociais e políticas.
Há uma permanente produção de excedentes, de produtos, de
empregadores e de trabalhadores, até para além do exército industrial de
reserva, rompendo-se a solidariedade entre trabalhadores, pois a greve de um
setor não mais prejudica seus empregadores e sim o outro setor de
trabalhadores. Ao final, os trabalhadores e os dependentes do Estado suportam o
fardo principal do acúmulo de crises sob a forma de crise fiscal.
Acrescente-se a crise financeira internacional e a
hídrica local e temos boa fotografia do que estaríamos a viver, mesmo com a
corrupção domada. As forças político-econômicas se digladiam pelo dinheiro
escasso, e saúde e educação, prioridades presentes em todas as narrativas, são
os subsetores mais prejudicados, como os trabalhadores/dependentes do Estado
são os mais cortados. Há o gozo explicativo de pôr sobre a vítima a culpa do
que lhe ocorre e há o gozo operativo de desorganizar hospitais e postos de
saúde, escolas e universidades, os primeiros órgãos afetados e os últimos a se
recomporem.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado. In: O
Povo, Opinião, de 14/2/17. p.10.
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