domingo, 4 de julho de 2021

MINHA MÃE, DEUS LHE PAGUE!

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Estando ainda no mês de Maria e das mães, tenho voltado meus pensamentos para aquela que, amparada pela parteira Mamãe Otaciana, me deu vida: Alzira Spinelli.

Esse olhar para o passado sedimenta um sentimento de gratidão cada vez maior pelo que ela e seu Wilson representam para mim em todas as coisas, especialmente em caráter.

Mamãe me incentivou e a minha irmã Judite no gosto pelos estudos, ela que não avançara muito, como era comum no seu tempo, mas que adquirira uma sabedoria marcante.

Com sacrifícios que não sei medir, colocou-nos em uma escola particular respeitada, permitindo nossa aprovação logo no primeiro Exame de Admissão ao Ginásio, espécie de vestibular, temido por limitar as vagas de ingresso em colégios públicos.

E mainha não descurou de me preparar para a vida. Afora os afazeres domésticos masculinos, à época diferenciados dos das meninas, colocou-me no mercado de trabalho.

Aos onze anos fui ser caixeiro em um armazém de secos e molhados, antecessor dos supermercados, sem relaxar nos estudos. Aliás, visionária como era, incluiu o curso de datilografia nas minhas atividades.

Aos treze anos passei a office boy em um escritório de advocacia. Pelos quinze estava no escritório de um posto de combustível para, aos dezessete, ingressar em um banco, com carteira assinada.

Essas oportunidades foram proporcionadas por aquela que não se envergonhou de bater às portas e pedir pelo filho, cabendo-me corresponder.

O próximo passo, o BNB, foi por concurso público, contudo o quarto lugar conquistado mostra que os anos de estudos, até o então curso científico, foram muito bem aplicados.

A par de tudo isso, aprendi com minha mãe, intuitivamente, a me dedicar a tudo o que fazia, procurando fazê-lo da melhor forma. A máxima que ainda defendo é a de que só devemos fazer o que amamos. Ou aprender a amar o que fazemos.

Parodiando o Acadêmico Paulo Setúbal em seu discurso de posse na ABL, cujo teor conheci ainda no curso primário, digo, como "filho que ela ... criou, educou, fez homem, Deus sabe com que sacrifícios e com que ingentes heroísmos obscuros: Minha mãe, Deus lhe pague!"

(*) Professor da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/5/21. Opinião, p.22.

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