terça-feira, 26 de setembro de 2023

UM ATO DE ESCREVER, DE PAIXÃO

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Escrevo para os amigos, aqueles que há tempos não vejo, mas que cada vez mais estão próximos. Provavelmente pela lembrança da infância e da juventude de sonhos e fantasias, que com o passar dos anos são mais vivas, pois contam com simplicidade d'alma.

Escrevo para viver a saudade dos que partiram... Com a sensação que estão e não se foram. Pois, eles são a nossa identidade, a melodia das noites de outrora.

As memórias vão ficando cada vez mais vivas, chegando a perceber-se no quase tocar. Talvez por entender com pura poesia e música sem a qual não dá para viver. Resta-nos as recordações, os momentos em que o espírito é um vulto de encantos.

De uma forma intransigente, por vezes da minha personalidade, entrego-me à emoção do dia a dia, em cada ato, seja solene ou comum, assim como no passado e num futuro de vontade, vestido de utopia e principalmente de crenças.

Acredito nas pessoas, visto pelo tempo em que as observo nas suas contradições, nas suas loucuras e nos seus medos, na transferência de hábitos familiares, que em parte, ordenam os erros, os acertos e o sofrimento.

Ao longo dos anos, venho observando e assistindo à morte quando fecha um ciclo, independente de sua época, quer seja sob a espada mais aguda de um campo de batalha, ou mesmo diante das traições da vida urbana atual e complexa. E, ainda, pela certeza de completar o destino de nosso corpo e espírito, e, finalmente, pelo encontro consigo mesmo.

Viver é ter a humildade de lidar com o imprevisível, com a sensação de finitude, com toda a angústia da não sobrevivência, que muitas vezes nos induz a comportamentos anacrônicos e insensatos.

É, a vida de médico deu-me oportunidades incomuns. Do prazer insubstituível da sensação de ajudar, como se fosse cada momento eterno, a cada diálogo no contexto de uma vida, que no mesmo instante é única no sofrimento e angústia, mas é múltipla no desejo e esperança.

Por tudo isso, agradeço a oportunidade de viver, de ver os anos que se vão, com suas dores pelos desencontros, e quase que ao mesmo tempo pela intuição infalível da continuidade de tudo, pelos amigos, pelos mais próximos e pela sucessão das vidas em conjunto.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/08/2023. Opinião. p.19.


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