quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PAVANA OU REQUIEM?

A brilhante jornalista Adísia Sá, em sua crônica de O Povo, de 12/01/10, intitulada “Pavana por uma cidade esquecida”, com poucas palavras, sumarizou bem o estado crônico de abandono a que se vê relegada a capital dos cearenses.
O descalabro da administração municipal se faz presente por sua absoluta ausência, quer pela inação, por suas raras iniciativas, quer por sua negligência, ao deixar campear abusos de toda ordem, independentemente de classes sociais ou bairros, que afrontam o Código de Obras e Posturas e a Lei Orgânica do Município de Fortaleza.
A bem da verdade, as intervenções públicas, além de serem em pequena monta, são descoordenadas, pontuais, e focadas na mídia, a exemplo do Réveillon, ou equivocadas, como é o caso do Hospital da Mulher, descabida prioridade que custará muitos milhões de reais ao combalido erário; o viés ideológico, por vezes, permeia ações demagógicas, como a homenagem rendida a Che no CUCA da Barra do Ceará, muito embora tenha virado ídolo da juventude rebelde, em uma determinada época, e, em outra, sido celebrizado no cinema.
A ombudsman emérita de O Povo cometeu apenas um deslize musical, ao usar o termo pavana, um tipo de música instrumental, oriunda de uma antiga e tradicional dança espanhola, nobre e lenta, de ritmo binário e quaternário, que gozou de grande popularidade entre os séculos XVI e XVII. A falha, compreensiva para quem não é musicólogo, pode ser naturalmente explicada pela peça Pavane pour une Infante Défunte (Pavana para uma Princesa Morta), obra do compositor francês Ravel, executada “ad nausea” no Brasil, ao ensejo do funeral de Tancredo Neves, em 1984, quando ganhou a conotação fúnebre.
Sinceramente, nossa cidade, pelo andar da carruagem, logo mais merecerá um “Requiem por uma cidade morta”.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista

* Publicado, com ajustes, in: Jornal O Povo, Fala Cidadão, de 13 de janeiro de 2010. p.7.

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