terça-feira, 18 de maio de 2010

ESCOLAS ESTADUAIS E A INTERIORIZAÇÃO DA UFC

Há quase dez anos, a UFC perpetrou uma das suas mais controvertidas ações, ao partir para a interiorização, começando pela instalação de duas extensões do curso de Medicina. A ousadia, alvo de duras críticas, não contra a interiorização, em si, do ensino superior federal, era de extremo risco, por ser iniciada levando um curso de elevada complexidade, que, aliás, naquele momento, atravessava uma situação vexatória, porquanto acabara de ser brindado com o conceito “E”, no Provão do MEC, em decorrência do boicote parcial da avaliação, determinada pelo movimento estudantil.
À época, Airton Monte, um conhecido e talentoso cronista, peremptoriamente, advertiu: “Quando a matriz vai mal, não se abre filial”. Essa frase tem aplicação geral, excetuando, talvez, nalguns casos, relacionamentos conjugais, mormente quando não se logra uma convivência harmônica.
No correr dos anos, em que pese os naturais percalços, a UFC, gradualmente, conseguiu consolidar os “Campi” do Cariri e de Sobral, que podem, por sinal, ser transformados em futuras universidades, e implantar um núcleo voltado para a tecnologia em informática, em Quixadá, experiências geradoras de inegáveis benefícios a essas regiões do interior cearense, onde esses empreendimentos estão localizados.
“Grosso modo”, esse crescimento foi conduzido observando as necessidades locais e a oferta existente dos cursos ministrados pelas universidades estaduais cearenses. No último Vestibular da UFC, para ingresso de 2010, das 5.504 vagas oferecidas, 890 (16,17%) pertenciam a dezoito cursos em funcionamento no “hinterland”, despertando uma concorrência de 8,88 candidato/vaga, superior à média da capital, e explicada pela forte atração dos cursos médicos. As vagas no interior observaram a seguinte distribuição: Cariri (450 em nove cursos), Sobral (290 em seis cursos) e Quixadá (150 em três cursos).
Todavia, esse esforço de interiorização da UFC, tem sido muito pouco aproveitado pelos alunos egressos da rede estadual de ensino, visto que, segundo dados divulgados pela SEDUC, apenas 47 deles foram selecionados, entre as 890 vagas postas em disputa, conferindo uma simplória participação da ordem de 5,28%. As quantidades de aprovados e as proporções, respectivamente, por “campi”, foram as seguintes: Cariri 19 (4,22%), Sobral 1 (0,34%) e Quixadá 27 (18%). Das três unidades, Quixadá teve o melhor resultado, em termos de aproveitamento dos alunos de escolas públicas, enquanto que, para Sobral, cabe a suspeição de que as vagas, em sua quase totalidade, estão sendo preenchidas pelos que provêm de instituições particulares de ensino, o que inclui os estudantes que deixam a capital, em busca do interior, face à concorrência ser mais amena ou menos combativa.
Como responsável pelo desenvolvimento do Ceará e por amainar as diferenças regionais, cabe ao Governo do Estado melhorar a qualidade do ensino público nas cidades e micro-regiões, que albergam faculdades e cursos superiores, a fim de tornar os estudantes mais competitivos nos exames vestibulares, o que resultará na contenção de parte do fluxo migratório para Fortaleza, representada por aqueles que almejam uma formação educacional superior.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular da UECE
* Publicado In: APESC Notícias, 10 (41):4, maio de 2010. (Órgão de divulgação da Associação dos Professores do Ensino Superior do Ceará).

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