segunda-feira, 11 de abril de 2011

EDUCAÇÃO ENGANOSA

A Secretaria da Educação do Ceará (SEDUC) enxertou, em 10/02/10, nos principais jornais cearenses, um informe publicitário, de duas páginas, sobre o Resultado do Vestibular da UFC de 2010, tendo por mote o aumento de 91% na aprovação dos alunos da rede estadual de ensino.
A informação, alvissareira para quem sonha com um ensino público, fundamental e médio, de qualidade, já circulava, há alguns dias, com amplo destaque na mídia; o informe oficial, na tentativa de auferir rendimentos políticos ou de expor o desempenho da pasta da Educação, foi tão desconcertante como desnorteante, caso se processe uma análise mais apurada do que foi exibido no informe aludido.
Primeiramente, o órgão estadual lastreou em números relativos, a sua chamada de sucesso, calcada no incremento de 91%, sem fazer referência ao ponto de partida, pois basta passar de um para dois para se ter um implemento de 100%. Como o Estado listou 303 nomes, na dependência do arredondamento, os aprovados no exame de 2009 foram 159 ou 160 alunos, que concorreram a 4.085 vagas, enquanto que, no certame anterior a UFC ofertou 5.504 vagas, com aumento de 35% e criação de quase vinte novos cursos, induzindo um avanço de 41% no total de inscritos, cifras essas que deveriam ser consideradas na análise.
De fato, a concorrência por vaga teve um ligeiro aumento, de 7,66 (2009) para 8,02 (2010), porém não foram noticiados quantos candidatos eram egressos das escolas estaduais e que fração dos seus concludentes do ensino médio se sujeitou ao dito vestibular. A análise correta teria que ser feita com base na taxa de aprovação entre os segmentos concorrentes. Por outro lado, segundo o site da SEDUC, dos 398.353 alunos matriculados no ensino médio cearense, em 2009, 350.612 (88%) pertencem a escolas estaduais, o que vem confrontar com os cerca de 5,5% de participantes destes, entre os atuais calouros da UFC.
Demonstrando uma falta de cuidado do gestor público, ao preparar o informe, entre os 303 listados, há uma série de erros, desde a grafia errada de nomes, a repetição de um deles, como se fosse possível a dupla aprovação, a divergência quanto ao curso aprovado em dez casos, até a inclusão de 46 alunos que não constavam do rol oficial de aprovados da UFC, reduzindo o total de aprovados, no limite das vagas ofertadas, a 256 (ou meros 4,65% da participação estadual), conformando, com tal montante, um implemento relativo de 60%, de 2009 para 2010, e não de 91%, maiormente explicável pela expansão da oferta de vagas no vestibular, que, sobretudo, deu-se em cursos menos competitvos.
Claro está que, diferentemente do que a propaganda alardeou, esse resultado, mais que uma mostra de que o investimento do Governo do Estado na Educação, reflete uma vitória de cada um desses alunos, a despeito das más condições de ensino, a eles propiciadas.
Com a adoção do ENEM, a servir de forma única de acesso a UFC em 2011, cuja totalidade das vagas foi inclusa n SISU, espera-se que o estado do Ceará não lance mão do cotejamento de resultados, caso o interprete como favorável, porquanto o instrumento de avaliação aplicado por último é completamente distinto do tradicional vestibular, até então usado pela UFC.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular da UECE
* Publicado In: APESC Notícias11 (44): 3, março de 2011.

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