segunda-feira, 14 de novembro de 2011

COMENDO GRAMA NO JOGO DA COPA

Por Ricardo Alcântara (*)
Diz o célebre poema que Portugal e Espanha brigavam “pelos direitos do mar”, como se algo tão grandioso pudesse pertencer ao episódio passageiro de cortes coloniais eivadas de “arrogância” e “vaidade”.
A alusão lírica ocorreu ao refletir sobre o que disputam agora prefeitura de Fortaleza e governo do estado: os louros de uma conquista bem mais modesta, mas relevante para os objetivos políticos de ambos.
Trata-se da deferência a Fortaleza como uma das principais sedes da Copa do Mundo, recebendo jogos da seleção brasileira e participação no evento superior a destinos turísticos consagrados – caso de Salvador, por exemplo.
No campo de batalha do marketing, o governo do estado saiu com vantagem no placar: detentor privilegiado de informações exclusivas e gestor da arena esportiva destinada aos jogos, foi fácil garantir o controle da partida.
Como o governo já sabia o que se decidiria na sede da Fifa (na véspera, o fato foi antecipado por jornalistas que privam da intimidade do poder), deixou previamente montado o palanque em posições escaladas na mídia.
Foi assim que o secretário da Copa, Ferrúcio Feitosa, retornou de Zurique: desembarcando, sem escalas, nas páginas dos jornais, onde ocupou, com aquele seu sorriso de menino bom, generosos espaços de exposição.
Houve ali um ensaio de intenções eleitorais evidentes, ainda que longe de tomar feições definitivas: a ele foi permitido personificar méritos devidos a um conjunto de fatores que não dependeram apenas de sua competência.
Ao carimbar a melhor notícia na figura de homem público e imagem pessoal do “secretário da copa”, o governo simulou seu potencial de autonomia eleitoral. Ali, foi dito: “Construir um nome não é o mais difícil”. E não é mesmo.
Enquanto o staff de comunicação de Luizianne Lins comia grama (mais uma vez) no jogo da copa, Ferrúcio mostrava a cara – boa aparência, rejeição zero – como uma opção para a campanha do próximo ano. Vai ficarde stand by.
Com tanta mobilização em defesa da moralidade pública (nas ruas e, agora, também na internet) e a relevância que o tema terá na campanha eleitoral, nada há de aleatório em alguns gestos precoces. São já reações ao ensaio do novo nome.
Manobras iniciais, ainda em fase de teste e sem revelações consistentes, apontam na direção de contratos firmados com ONGs pela secretaria de Esportes do estado quando era titular Ferrúcio Feitosa. O programa? Segundo Tempo – sim, aquele.
Nada de novo sob o sol. Quem dispensa aos “aliados” as cortesias que homens do governo oferecem aos seus não tem motivos para dormir de porta aberta. Daqui até uma definição sobre a aliança, para toda ação deverá haver uma reação. Jogo duro.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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