segunda-feira, 15 de outubro de 2012

AIRTON MONTE

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Há muitos vimos enfatizando neste espaço, mensalmente, a ressaliente (destacada) relação entre Medicina e Literatura. Os interessados podem consultar nas hemerotecas (coleções de jornais) artigos de 10/11/2007 (“Há que ler, há que ler”), “Literatura para médicos?” (11/03/2009), “1º UnimedLit” (22/06/2011) e “Biblos” (15/08/2012). Ali exemplificamos com os médicos/escritores Chekhov, A.J. Cronin, Axel Munthe; no Brasil recente citamos Pedro Nava, Guimarães Rosa, Moacyr Scliar. Ilustrando tão remota afinidade mencionemos o médico inglês Theophrasto Renaudot, formado em Montpellier (França), fundador do primeiro jornal francês, “Gazette de France”, em 1631. Tal antigo intercurso sempre foi mundialmente curtido e celebrado em sociedades específicas. No Brasil avulta a SOBRAMES, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, a qual presidi no Ceará e nacionalmente.
Esta mania de escrever, característica de médicos, verdadeiro “cacoethes scribendi”, esta ânsia de transmitir idéias e sentimentos vestidos de ficção, no romance, no conto, na poesia, nem sempre logra reconhecimento amplo pelos leitores.
A pífia divulgação dos livros impressos no Ceará impede sua propagação além dos lançamentos. Aliás, no Brasil lê-se pouco e menos. Outrossim (igualmente), o livro nacional é 50% mais caro do que o americano, inclusive quando importado. Anualmente cada brasileiro lê quatro livros até o fim, segundo o Ibope. Seria a televisão com suas novelas, suas chanchadas, e seus ratinhos e faustões, entretendo o povo, roubando-lhe o tempo para ler? No Ceará, das tiragens usuais de mil exemplares cada, o autor geralmente consegue repassar mínimos 100 – 120, durante a noite de autógrafos, os demais voltando para a gráfica, ou para sua casa.
Quando presidente do Conselho de Cultura do Ideal Clube, estabeleci a retenção de alguns ali lançados, para quedarem no acervo da biblioteca (Filgueiras Lima) e eventual aquisição/leitura por outros interessados. Neste sentido, a Unimed Fortaleza, a seu modo, procura minorar esta necessidade. Assim, está montando a BLUME – Biblioteca Unimed de Médicos Escritores, onde funciona a Divisão de Apoio ao Médico Cooperado.
Naturalmente esperando contar com a colaboração da SOBRAMES-CE.
Curiosamente, “Blume”, em alemão significa flor! Quem sabe, aquelas plantadas por médicos, e regadas pelos olhos e pela imaginação dos leitores. Ali estarão disponíveis edições remanescentes, antes que lhes delete o escuro dos armários, as traças, o mofo e os cupins, a foice do tempo, enfim.
E por falar em deslembrança ocorreu-nos consagrá-la a Airton Monte, notável médico/escritor, e maior dos nossos cronistas, há pouco encantado.
Fiquem, portanto lá também, os seus livros, já que o mar apressou-se a tragar-lhe as cinzas.
(*) Médico e presidente da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 10/10/2012.

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