A GENEROSIDADE DE
CAXIAS
J.M. de Macedo -
"Ano Biográfico", vol. II, pág. 247.
Derrotado a 3 de abril de 1832,
pelo major Luiz Alves de Lima, que saíra ao seu encontro com um corpo de
polícia, o major Miguel de Frias pôs-se em fuga, procurando escapar.
Lançando-se no seu encalço, estava Alves de Lima para alcançá-lo, quando um
adversário lhe dispara um tiro de pistola,
fazendo pranchear o cavalo e permitindo, com isso, que o fugitivo
desaparecesse.
Avançando de novo, é Caxias
informado de que o chefe revoltoso se havia asilado em uma casa da rua do Sabão
da Cidade Nova. Apeia-se, o dono da casa franqueia-lhe a residência, que Caxias
percorre. Ao fim de um corredor, havia uma porta fechada, com a chave na
fechadura. O chefe legalista dá volta à chave, e abre. No centro do quarto, de
pé, Miguel de Frias o esperava. Os dois heróis olham-se, mudos. Ao fim de um
instante, Alves de Lima puxa a porta, e retira-se, dizendo ao dono da casa:- Desculpe-me; não há ninguém...
No dia seguinte, Miguel de Frias fugia, asilando-se nos Estados Unidos.
O SEGREDO DA
BRAVURA
Taunay - "Reminiscências", vol. I, pág. 25.
Osório era, por índole,
gracejador e espirituoso. Em um piquenique que lhe foi oferecido no Corcovado,
uma senhora, a quem havia dado o braço, perguntou-lhe em que consistia o
segredo da sua bravura.- Eu fui valente por medo... - informou o herói.
- Medo?
- Sim; tinha medo de que as minhas patrícias bonitas não me recebessem bem, se me portasse mal nas batalhas.
A ARGÚCIA DE
FLORIANO
Serzedelo
Correia - "Páginas do Passado", pág. 18.
Apresentado pelo tenente Jansen
Tavares, foi ao Itamarati, para falar a Floriano, um oficial do Exército, que
pretendia dois meses de soldo adiantado:
- Sente-se, - ordenou o presidente.Recusando a gentileza, o militar, mesmo de pé, contou ao que ia. E puxando do bolso uma nota de 5$000 e outra de 1$000, completamente machucadas, abriu-as, e disse ao ditador:
- Eis o dinheiro que eu e a minha família temos para passar o mês.
Floriano voltou-se, dizendo:
- Vá embora; vou mandar que lhe dêem três meses.
E virando-se para o tenente Jansen:
- Este camarada joga!...
- Não sei, marechal.
- Sabe, sim. Ele é jogador.
- Joga um pouco, - articulou Jansen.
- Um pouco, não; joga muito.
- Como sabe V. Excia. disso?
- Pois você não vê como ele
tira o dinheiro do bolso todo machucado?! Isto só faz o jogador. No pano verde
apanha indistintamente as notas de 20$000, de 10$000 e de 5$000, machuca tudo,
mete no bolso e depois, ao fazer a parada, puxa-as da calça e abre para as pôr
na mesa.
O oficial era, de fato, grande
jogador.
“TECUM DOMINUS”
Moreira de
Azevedo – “Mosaico Brasileiro”, pág. 42.
José Inácio da Costa, apelidado o
Capacho, era poeta, ator e major do regimento dos pardos, nos tempos coloniais.
Havendo-se mudado as vozes das manobras militares, o major Capacho, ainda pouco
prático, trovejou, em exercício:- Armas ao ombro!
- Não é armas ao ombro, Sr. oficial, - retorquiu-lhe o ajudante, - é “ombro armas!”
Apresentando-se o major dois dias depois ao serviço, ao entrar no paço deu um espirro.
- “Dominus tecum” - disse-lhe um soldado.
- Não diga “dominus tecum”, mas “tecum dominus”! - observou o major.
E solene:
- Não sabe que, agora, tudo está mudado?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
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