Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Atualmente,
à memória da morte de Zumbi dos Palmares é celebrada no dia 20 de novembro; é o
Dia da Consciência Negra. A semana dentro da qual está esse dia recebe o nome
de Semana da Consciência Negra. E esta croniqueta foi escrita para remontar ao
assunto.
O recente
sucesso editorial dos “livros-reportagens” do jornalista Laurentino Gomes,
trilogia numérica: 1808, 1822 e 1889 (esta última ocupa por mais de catorze
semanas a lista do best-seller nacional) é um fato muito bom.
A
população alfabetizada (minoria, que lê ou compra livros) tomou ciência de que,
para se conhecer o País, faz-se necessário conhecer/julgar o passado para não
repetir os mesmos desacertos no futuro. Oxalá.
Dessas
safadezas/camuflagens que impigem crianças desde o básico escolar, o assunto
mais disfarçado é que somos um país sem racismo.
Essa
lorota vem desde quando os índios foram escravizados e os negros trazidos
d'África a força, para um cativeiro “brando” como afiançam alguns doutores e
sábios de nossa intelectualidade estudiosa, que se proclamam peritos no tocante
à formação do Povo Brasileiro.
Quem
assim age ou é ignorante ou hipócrita. Prefiro acreditar na primeira hipótese
(ignorante). Escravatura branda não passa de alegoria, da mais torpe (do tipo
Solução Final do Nazismo), mas foi isso que as professorinhas (inocentes ou
despreparadas) impingiram-nos desde a escola primária com as tolices do tipo:
mãe preta, irmão e irmã de leite e outras crendices...
(A
escravidão no Brasil não foi melhor nem pior daquela praticada nos países
colonizados pelo Inglês, o Holandês, o Francês, o Belga ou outro qualquer
colonizador). Quem já viu colonizador bom?
Escravatura
é Escravatura e não difere uma... de nenhuma... Onde quer que ela seja
praticada, nem quanto às suas motivações políticas e muito menos econômicas:
cana de açúcar, lavoura de café ou de algodão, mineração, etc.
Tais
baboseiras podem até agradar os ouvidos dos deitados eternamente em berço
esplêndido. Não passam de aleivosias ou de tentativas de sacanear a História. É
fazer graça com o sofrimento de outrem e quem assim é ensinado passa de boboca
para aparvalhado.
No ano de
1695, Zumbi é morto no Quilombo dos Palmares pelas tropas do bandeirante
Domingos Jorge Velho. Trazido de São Paulo para acabar com aquele grupo de pessoas
cujos corpos e pele tinham maior capacidade de produzir melanina, e só. Ter
mais melanina na pele equivale a ser raça inferior. Para o que se esqueceram:
melanina é um pigmento negro encontrado em locais diversos do corpo, como pele
e pelos.
Não pensem
que Palmares fosse um aglomerado de poucos casebres. Havia mais de 30.000 almas
lá vivendo, à época. Era a segunda cidade do atual Estado das Alagoas.
Você sabe o que fizeram com Zumbi?
Pois é, o
pobre foi torturado, castrado e seus órgãos genitais enfiados na boca, que foi
costurada e – somente então - morto.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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