sexta-feira, 22 de maio de 2015

A INVEJA

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A inveja é o desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem ou o desejo exasperado de possuir o bem alheio. A percepção de inveja modifica-se com base nas diferentes culturas ou religiões. Na Grécia antiga a condenação ao ostracismo (isolamento ou exclusão) era uma forma de punição aplicada aos cidadãos suspeitos de exercerem poder excessivo ou restrição à liberdade pública. Naquele tempo essas ações já eram matéria de Justiça.
No Budismo, a inveja é encarada como a conjunção da cobiça e do ciúme, sentimentos que impedem o alcance ao nirvana, o paraíso. Em outras religiões, como a Islâmica, a inveja é considerada doença espiritual corrosiva que destrói e anula todas as boas ações praticadas pelo invejoso.
Para a Igreja Católica, a inveja é um dos sete pecados mortais e contra ela se prega a virtude da caridade e o amor ao próximo. No Judaísmo, a inveja só é considerada pecado quando existe o desejo de tirar algo do outro. Quando tem o caráter de admiração, é vista como estímulo para o desenvolvimento material e espiritual, o que consagrou a expressão "inveja santa" ou "inveja boa", incentivo para alcançar os objetivos de desenvolvimento.
Para mim a inveja não tem cura, não adiantam os argumentos religiosos, prefiro ficar com o pai da História, Heródoto (485? – 420 a.C.):
“A inveja nasce com o homem desde o princípio...”.
Inexiste bondade nela. E quem disso discordar leia ou releia, por gentileza, esta fábula. Nada como uma fábula para explicar qualquer assertiva. Digo isto sabendo serem as fábulas imaginadas pelos homens alguns dos melhores instrumentos para explicar as razões ocultas dos sentimentos cujas causas não podemos esclarecer usando crenças ou lógicas.
Vamos a uma delas:
Uma cobra começou a perseguir um vagalume que vivia brilhando, como todos de sua espécie. Ele fugia rápido da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir. Fugiu um dia, dois dias e nada... No terceiro dia, já sem força, o pirilampo disse à cobra:
- Posso lhe fazer duas perguntas?
- Não costumo abrir tal precedente para ninguém, mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar.
- Pertenço a sua cadeia alimentar?
- Não.
- Então por que você quer me comer?
A cobra percebeu o absurdo de estar motivada por sentimento tão baixo e, envolta em seus pensamentos, respondeu:
- Porque não suporto ver você brilhando...
Inveja mortal!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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