terça-feira, 19 de maio de 2015

A Escravidão, a Igreja, os Colonizadores e a Farsa do 13 de Maio de 1888

Por João Soares Neto (*)
“A história da escravidão é um abismo de degradação e miséria que não se pode sondar”. Joaquim Nabuco
Ouso sondar e o faço sem medo, pois a história sempre é contada pelos vencedores e por historiados complacentes. É claro que as poesias de Antonio de Castro Alves são um libelo e o que João Capistrano de Abreu escreveu merece fé. Ambos deveriam ser lidos por quem acredita que a escravidão foi apenas um período de degradação de história mundial. A escravidão ainda existe, embora com outros nomes. Os imigrantes indocumentados que trabalham clandestinamente são tratados como escravos.
Aqui no Brasil há isso, ainda hoje. A diáspora pela sobrevivência de muitas raças é a confirmação do que explano. Um pequeno exemplo: a fuga da pobreza de haitianos para o Brasil é prova disso, Sem falar na enganação dos últimos anos sobre uma ação humanitária do Brasil em países africanos. Na verdade, as grandes empresas que para lá foram queriam mercado de trabalho a base de propinas. Tal como aqui se faz. E os “nativos” foram e são usados apenas como mão de obra barata.
Pessoas eruditas, e outras nem tanto, fazem cara de pena quando veem em jornais, nas revistas e nas redes de televisão o morticínio de negros africanos que, por absoluta falta de oportunidade, fogem de seus países assolados por desemprego, por fome e por doenças. Tudo comandado por ditadores patrocinados pelas potências ocidentais ou governos “democratas” locais em eleições forjadas e viciadas.
Neste 2015, pessoas e famílias usam todo o dinheiro amealhado – sabe Deus como – para serem transportados  em novos navios negreiros de  bandeiras diferentes que, em meio ao mar mediterrâneo, afundam, jogam passageiros doentes ao oceano  ou “são afundados” por guardas costeiras.
Segundo estatísticas da própria Organização das Nações (des)Unidas – ONU, morreram na travessia, em 2104, 3.500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Estatística, dizem uns, é a ciência da dúvida. Morreram muitos mais.  Se tiver a cabeça metida em um “freezer” e os pés em uma fogueira, a média estará boa. Os navios afundados  – e não são poucos – repousam no fundo do mar e ninguém se importa com isso.
Verdade seja dita, a Europa, que eu conheço de ponta a ponta, abomina a chegada de negros e árabes, embora disfarce. A Alemanha de hoje, além dos “abomináveis” turcos, conta com uma massa grande de árabes e negros que sobrevivem em subempregos ou servem aos traficantes de drogas que os cooptam.
Os camelôs negros da Itália estão sempre próximos aos pontos de atração de um país que tem no turista uma das suas grandes fontes de renda. Hoje, eles são disputados por chefes de contrabando e de  tráfico quando saem do Porto de Lampedusa e se misturam em guetos. Em outros países europeus nada é diferente da Alemanha e da Itália. Lembram-se do ataque ao tabloide “Charlie”, em Paris?
A tal da libertação falaciosa dos escravos em 13 de maio de 1888 no Brasil foi pouco mais que um ato político preparando a proclamação da República. A história do tráfego de escravos em Portugal, dita nossa pátria mãe, começou no século XV, desde 1448, sob a égide de D. João III, antes mesmo da descoberta do Brasil. Como se sabe, Portugal só se lembrou da existência desta sua então colônia brasiliana depois de 1530.
O reinado de Portugal, em 13 de março de 1531, instituiu as Capitanias Hereditárias, não por ser bonzinho, mas pela incapacidade de gerir tantas colônias no ocidente e oriente, até na China, onde Macau foi portuguesa até bem pouco. Era conquista demais para pátria lusitana cantada em verso nos “Lusíadas”, por Camões.
Saibam vocês que o Papa Nicolau V, da Santa Igreja Católica, até editou a  Encíclica “Dum Diversitas” liberando a escravatura. A “Dum” vigeu entre 1513 e 1605. Na realidade, a Igreja queria apenas cristianizar negros que tinham as suas fés próprias, ainda hoje arraigadas em todos os países em que habitam. Ao lado disso, não se pode esquecer as atrocidades da Inquisição na Idade Média.
Diz Felipe de Alencastro, sobre o problema da escravocracia brasileira: “A escravidão legou-nos uma insensibilidade, um descompasso com a sorte da maioria que está na raiz da estratégia da classe dominante.” Quem leu alguma coisa de História sabe que os portugueses, os espanhóis e os ingleses foram os maiores fornecedores de escravos, a partir do século XVI. Mas, é preciso deixar claro que a escravatura é antiga, bíblica até, apesar dos discursos de democracia, consumidores e usuários de escravos.
Carregar um pacote, construir monumentos e palácios não eram coisas para cidadãos. Cabia aos escravos esse “trabalho sujo”. Assim, ninguém se espante que os comerciantes, a partir do século XVI, fizessem do tráfico de negros da Costa do Marfim, Angola, Nigéria, Moçambique e outros lugares, um grande negócio. Cada navio, movido a vela e até com ajuda de remos, usando astrolábios, era uma empresa flutuante que importava e exportava, por viagem, em torno de 400 africanos para os mercados das Américas do Norte, Central e do Sul.
No Brasil, as capitanias mais desenvolvidas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, tiveram os seus negócios de agricultura de açúcar e do ouro, movidos pelos braços fortes dos que eram vendidos, como mercadoria, em praças públicas. A nossa Igreja, enquanto isso se preocupava em transmitir a fé aos silvícolas e usar a sua mão de obra para a construção de templos, desde as “Missões”, no extremo sul do Brasil colonial, passando pelo Rio, as Minas Gerais, a Bahia e chegando a Pernambuco e a outras plagas.
A “Lei Bill Aberdeen”, de 1845, proibiu de fato, mas não de verdade, o tráfico de escravos por navios da Inglaterra. Aqui no Brasil, em 1850, copiando – sempre por atraso no pensar – surgiu a Lei Eusébio de Queiroz, com quase o mesmo objetivo.
Estas são as razões pessoais que não me fazem comemorar o dia 13 de maio. O Brasil vive momento crucial de sua história. Há tramas urdida por muitos, alimentadas apenas por interesses que já se tornam claros, pois sequer há mais um mínimo de desfaçatez. Hoje, os eleitores brasileiros tornaram-se escravos de seus próprios escolhidos, independente dos partidos políticos que os abriguem.
Fonte: Publicado no jornal O Estado, sexta, 15 de junho de 2015.

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