José Jackson
Coelho Sampaio (*)
Quanto mais
desenvolvimento político, econômico, social e técnico, mesmo em cultura de
exploração do trabalho de muitos para o gozo de poucos, mais se necessita de
tempo para o domínio das tecnologias. O séc. XIX exigiu infância, o XX exigiu
juventude, o XXI exigirá vida inteira para o domínio das habilidades e da
ética, na tensão entre prazer, riqueza e poder. As novas elites exigem mais
tempo para formação, trabalho e consumo, dimensão que dá sentido ao processo
produtivo de agora, reformulando o papel dos excluídos.
A divisão de
classes é global e opõe países: centrais, periféricos, agrários, industriais,
financeiros, daí o comportamento elite de uns, puritano de outros e servil da
maioria. Os USA, por exemplo, descobriram seus tardo-adolescentes, alienados e
individualistas, consumindo as drogas naturais produzidas na periferia do
mundo. Então avocaram poder bélico para intervir na Turquia, Afeganistão,
Colômbia, resultando em negócios globais, apoiados em forças paramilitares,
além de focarem a garra anglo-saxã para novo cluster: as drogas sintéticas,
frutos da ciência.
Se a humanidade
gosta de droga, o comportamento hedonista massificou-se, a lógica do consumo
tornou-se geradora de sentido, a competência técnica multiplica por zilhões a
produção das mercadorias, a escala de lucro tornou-se estratosférica, os novos
jovens têm hábitos urbanos e afeitos a produtos industriais e lhes foi dito que
remédios os salvam de dor, infelicidade e morte. Então surge a cocaína branca
dos salões e o barato do crack barato das periferias.
Na economia da
dependência química, as máfias racham territórios. Assim, áreas ricas ficam
para a cocaína e as pobres tornam-se pasta de crack, com sua côrte de zumbis
pelas ruas. Os ditos marginais alimentam ciência, indústria, preconceitos –
como fracassados, degenerados – e podem justificar novo tipo de asilo. Assim,
todas as ações sociais são defendidas, não pelos méritos próprios, mas pelo
efeito estético-higiênico de “tirarem drogados das ruas”.
(*) Professor
titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado In: O
Povo, Opinião, de 9/4/15. p.6.
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