terça-feira, 28 de março de 2017

Diga-me o que comes e dir-te-ei quem é


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Brillat-Savarin (+1826), In (“Physiologie du Gout”) (“… do Gosto”, 1825). Uma das bíblias da Gastronomia, ecoou o alemão Ludiwig Feuerbach: “Der Mensch (o homem) ist was (é o que) er (ele) isst” (de “essen=comer). Segundo A. da Silva Melo (“Alimentação Instinto e Cultura”. Ed. J. Olympio, 1956) atuam em nós igualmente a água, o ar, o sol, o exercício. Em português, a nutrição foi originalmente abordada por Francisco da Fonseca Henriquez, o Dr. Mirandela, médico de D. João V (1689-1750) (“Âncora Medicinal”. Ateliê Editorial, S. Paulo, 2004). Lê-se ali: a conservação da saúde consiste também na observação do beber, do sono e da vigília, do movimento e descanso, dos excretos e retentos, e das paixões da alma.
Molière (+1673) sentenciou “... manger (comer) pour vivre et non vivre pour manger”, plagiando Cícero (106-43 a.C.)!
Na Bíblia Deus fez chover o maná (pão: carboidrato) para os israelitas em fuga. Contudo, constatou-se muito depois não serem os carboidratos – das três fontes de calorias – necessárias à sobrevivência, como gorduras e proteínas. Assim, invocando a bromatologia (estudo químico dos nutrientes; do grego “broma” = alimentos), guardemos algumas dicas de dietários (nutrólogos) reconhecidos como catedráticos em energia alimentar, conforme as revistas científicas “Nature”, “Science”, “Lancet” e “N England J Med”. Sendo crescente a fome destes conhecimentos, e minguante este espaço, anotem as seguintes receitas:
Água. Para beber e/ou cozinhar há que ser alcalina (pH entre 9,5 e 10). Bebe-se 6-10 copos/dia. Açúcar. Fonte primária de gordura. O refinado (pães, massas, arroz, batatas, confeitos) transforma-se em triglicerídeos, acelerando a aterosclerose e a doença coronariana. Prefira-se o mascavo, o demerara, ou os adoçantes de “stevia”. Gorduras. Óleos vegetais comerciais surgiram em 1911, substituindo a saudável banha de porco avoenga (dos avós). Em 1925 começamos a enfartar! Portanto, não à comida gordurosa e escolhamos óleo (ou azeite) de oliva – ou de coco - extravirgens. Ácidos graxos (gordurosos) são insaturados, benéficos, ou saturados, indutores do diabetes, da hipertensão, do AVC, da coronariopatia, do câncer. Quando industriais (“trans”. v.g., margarina) são nocivos. Optemos pelos primeiros, das sementes, castanhas, dos peixes, das fibras vegetais (verduras e frutas) redutores do LDL – C, o “mau” colesterol. Sal. Útil para batizar e elevar a pressão. Recomenda-se o Sal Rosa, e a flor de sal, de Mossoró (RN). Leite. O da vaca serve para bezerros e formar ossos e dentes. É ultrassalutar quando humano. Recomendamos reler (“Mau deleite”, O POVO, 29/6/2014).
Pronto. Faltou tempo para os alimentos pitgóricos (vegetais), as vitaminas, e os “nutricêuticos”. Rematando, renomado autor aconselhou uma dieta dantes da ciência da alimentação, só da natureza, sua sabedoria imanente, da inteligência inconsciente dos órgãos! (In Silva Melo, “op.cit”). Realmente, seria um prato cheio pra meditação.
Nota: Frase de Brillat-Savarin dá o título deste artigo.
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 15/02/2017. Opinião, p.10.

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