Médico-Psicoterapeuta
A crônica é o melhor
recurso que o jornalismo tem para enfrentar os novos tempos. É a mescla da
informação com a emoção, do mundo objetivo, público, com o mundo privado ou
íntimo. Por meio dela, ao mesmo tempo pode-se descrever a notícia que afeta uma
comunidade e entender sua repercussão individual. E, a partir disso, analisar
por que essa notícia transforma a vida de certas pessoas.
A crônica tem muito
prestígio cultural. Se você perguntar a uma autoridade, a um empresário ou a um
leitor comum se eles gostam de crônica, vão dizer que sim, porque ela evoca o
humano, o real.
Por outro lado, há uma
busca pela audiência, hoje potencializada pela internet, que faz com que tudo o
que tenha sangue seja valorizado "if
it bleeds, it leads" (se sangra, tem destaque), tendência que nunca
foi tão verdadeira como na mídia atual.
Outro dia, eu estava
olhando o índice de um dos meus livros de crônicas. Notei que 80% delas tinham
saído em veículos que não existem mais. São publicações efêmeras, suicidas ou
pouco lucrativas.
Nós, cronistas, temos
prestígio, mas a nossa transcendência não é tão grande quanto imaginamos. Conto
nos dedos das mãos os cronistas que sobrevivem escrevendo crônicas. Quando
muito, ficam a mendigar espaços nos periódicos para escrever de graça. O
prestígio de muito dono de jornal vem do poder de oferecer espaço para as
crônicas.
A crônica por parecer
um gênero mais fácil, e realmente o é, para os que ousam mostrar suas
tendências literárias para sobreviver. No entanto, sabendo ou não, estão
vendendo a granel a sua vocação ou sua falta de vocação de escritor.
Alguns fazem delas narração histórica, por ordem cronológica,
pequeno conto, de enredo indeterminado, ou texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal. Outras não
passam de seção de revista ou de
jornal, conjunto de notícias
sobre alguém ou algum assunto. O pior é que a crônica aborda assunto mais
literário do que jornalístico e não admite o anonimato, ela tem de ser
assinada. Para ser crônica tem que ser assim.
O cronista é um homem que passa a vida procurando contar as ocorrências
diárias, tentando fazê-lo com graça. Sofre até os males do envelhecimento, pois
quando o cronista está escrevendo um artigo suspeita que já o tenha escrito. E
o pior é que com o passar do tempo vamos ficando mais enfastiados de nós
mesmos. Não caia nessa de pedir para que seu artigo seja publicado. Vira um
vício muito perigoso. Nem craque vicia tanto.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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