A QUESTÃO DAS QUESTÕES

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Questão 12. A capa da revista "Época" que abordou o tema desta prova usa a expressão "Pense verde". No PV (Partido Verde), existe um político que tem se destacado no Congresso Nacional por sua postura ética, o que foi correspondido na sua recente votação. Seu nome é: A) Roberto Jefferson. B) Fernando Gabeira. C) Alfredo Cerquis. D) Hernandes Clodovil. E) Pedro Simon." Esse quesito era do Processo Seletivo 2007.1 do Centro Universitário Farias Brito (FB UNI), Faculdade à época.

Com exceção dos exames para vagas ociosas, seus vestibulares são temáticos, de modo que a totalidade das perguntas de todas as disciplinas se refere a um mesmo tema, no caso, o meio ambiente.

Por ser um dos elaboradores, após as avaliações, eu sempre conversava com os vestibulandos sobre estas. Indaguei a um jovem seu juízo a respeito da questão supracitada. Disse-o: "Sem ideia do item correto, respondi ao acaso, no 'chute'. A opção B indicava pessoa de sobrenome 'Gabeira', palavra muito parecida com 'goiabeira', nome duma árvore. Sendo a prova toda alusiva ao meio ambiente, marquei essa alternativa." E o pior aconteceu: o "chute" deu certo.

Atitudes como essa ocasionaram a invenção de um chiste em que um estudante, em sua vida escolar inteira, foi avaliado apenas por testes de escolha múltipla. E a despeito de nunca ter resolvido um quesito discursivo, formou-se em Medicina. Já graduado, ao saber os sintomas de um paciente, afirmou: "Diga-me os nomes de 5 remédios, e eu escolherei um para você."

Com o advento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), talvez sejam exigidas respostas dissertativas em provas específicas do Enem, que, por sua influência no ensino básico, lhe traria benefícios.

Questões discursivas, como as específicas do FB UNI, demandam mais reflexão e capacidade redacional. Privilegiam a interpretação, o raciocínio lógico, o pensamento computacional, o espírito de investigação e a criatividade, conforme preconiza a BNCC.

Destarte, evitaríamos as "goiabeiras" da vida, estimularíamos o uso da inteligência e teríamos um ensaio para o que o mundo espera do aluno de hoje, cidadão do amanhã.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/10/21. Opinião, p.18.