quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

TEREMOS UMA QUARTA ONDA DE COVID-19?

Por Érico Arruda (*)

Últimos dias do ano de 2021, tentava tirar alguns dias de férias, mas a epidemia de influenza, já com suas garras à mostra, me dava certeza que não seria período de descanso. Mensagem de um amigo chega pelas redes sociais: "seu áudio enviado para a família viralizou nos grupos de WhatsApp. Isso não vai lhe prejudicar?".

Respondi que a mensagem era minha opinião sobre o momento epidemiológico na cidade, incentivando meus primos mais próximos a não fazerem confraternizações de fim de ano, exceto com o pequeno núcleo familiar. "Tomara que ajude outros a minimizar seus riscos de infecção, pois o evento dos primos já consegui evitar", complementei.

A terceira onda de Covid-19 tornou-se evidente nos primeiros dias de 2022. Voltei antecipadamente das férias para o trabalho no Hospital São José, dado o grande número de colegas afastados por infecção por influenza ou Covid-19, e para o consultório, constatando o que já se percebia das análises clínicas e epidemiológicas preliminares de outros países: o grande poder de disseminação da nova variante do SARS-CoV-2 (ômicron), que já predomina em Fortaleza, com famílias inteiras infectadas a partir de um único encontro de réveillon; e a menor gravidade da doença, refletindo em menos internações, entre aqueles que receberam pelo menos duas doses de vacina, em comparação às ondas anteriores.

Este é o ponto mais relevante: não fosse o esforço de vacinar a população no ano de 2021, o desespero por ventiladores e leitos de UTI já estaria nas manchetes dos noticiários nacionais e locais. Sem carnaval e com ampliação de vacinação de crianças, que o governo federal e sua política negacionista infelizmente retardou, poderemos alcançar em mais 2 a 3 meses, controle desta terceira onda.

Mas e a quarta onda? Será inevitável, se o mundo não se convencer que enquanto aproximadamente 80% das pessoas do planeta não receberem pelo menos duas doses de vacina, continuaremos programando vários reforços vacinais e contando as ondas de Covid-19 nas letras do alfabeto grego e suas misturas, como a deltacron já descoberta no Chipre.

(*) Médico infectologista. Doutor em Doenças Infecciosas e professor da UECE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/01/2022. Opinião. p.18.

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