Por Henrique Jorge Medeiros Marinho (*)
O
recente ataque do Presidente Lula ao Banco Central, notadamente ao Comitê de
Política Monetária (COPOM), que manteve a taxa Selic em
13,75%, considerando esse patamar uma "vergonha", gerou uma série de
desconforto tanto para o Governo como para o Banco Central, no seu primeiro
teste depois de ter adquirido sua independência em 2021, com o Presidente tendo
mandato de 4 nos, intercalado com o do Presidente, ou seja o Lula não pode, de
imediato, indicar ou demitir o Presidente do Banco Central.
Por
um lado, o Presidente Lula tem razão em reclamar da taxa de
juros elevadas (é uma das maiores do Mundo), mesmo com uma inflação em 5,79% ao
ano em janeiro deste ano, abaixo da média mundial. Para o Presidente, juros
muito altos prejudicam o crescimento da economia e não geram empregos, o que
ele tem razão.
Por
outro lado, o Banco Central também tem razão na manutenção da
taxa Selic nesse patamar, considerando as incertezas quanto ao atingimento da
Meta de Inflação de 3,25% em 2023 e 3,0% em 2024 e 2025, estabelecida pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN). Para o COPOM, a atual política fiscal e
incertezas quanto à economia mundial, tem gerado incertezas quanto à
"ancoragem" da inflação para a Meta a ser seguida pela Autoridade
Monetária.
Essa,
na verdade é uma guerra política e não econômica, porque Lula
está inclusive pressionando os empresários a protestarem a decisão do Copom que
mantém em seu "modelo de expectativas" para a inflação a taxa Selic
que é necessária para induzir o mercado a acreditar que a posição do Copom é racional.
Conselheiro do Banco Central Europeu (BCE), Robert Hozmann, que também vem
sofrendo pressão por ter elevado a taxa de juros, afirma que o banco central
deve combater a inflação de forma ativa e diz "A política
monetária deve continuar "mostrando seus dentes" até que vejamos uma
convergência confiável para a nossa meta de inflação.
Aliás,
os principais bancos centrais das economias desenvolvidas e em desenvolvimento
tem praticado elevação de juros para enfrentar a recente
elevação da inflação. Qual o final desse embate? No momento, a manifestação do
Presidente Lula de tentar "desqualificar" o Banco Central, que tem
como Missão Constitucional Garantir "a estabilidade do poder de compra da
moeda", é prejudicial para o Brasil.
O
Presidente Lula está deixando o Banco Central numa armadilha, porque se reduzir
os juros na próxima reunião do Copom, estará cedendo e deixando o nível
confiança do sistema de metas para Inflação sob suspeita e se mantiver ou
elevar estará criando um conflito de governança do Governo. Vamos ver no que
dá, mas torcendo para que a razão predomine.
(*) Economista.
Membro da Academia Cearense de Economia.
Fonte: O Povo, de 11/2/23. Opinião. p.19.
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