quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O MULATO MARRANO(?): Machado de Assis e o judaísmo

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

José Maria Machado de Assis, ou simplesmente Machado de Assis, foi um dos maiores escritores brasileiros. Poeta, romancista, contista, dedicou-se ainda à crônica e ao Teatro. Nasceu em 1839, filho de uma mulher branca açoriana com um mestiço brasileiro.

Machado se revelou um profundo conhecedor da vida. Foi sempre um preocupado com o destino do homem e com o significado de sua existência. A condição humana e suas vicissitudes brotam de sua pena criadora. É hoje autor discutido, comentado, lido nos meios acadêmicos do Mundo. Certamente, se tivesse escrito em uma língua mais falada, teria sido criatura literária descoberta e consagrada — de há muito.

Quem sabe, talvez tenha sido melhor assim. Quantos leitores alcançaram maior maturidade para entender a obra machadiana? O mote é Literatura, quando tratada por mãos de artista das letras. Temas hebraicos são bastante comuns na obra de Machado de Assis: Esaú e Jacó ou Acadêmicos de Sião, para citar apenas dois exemplos. Impressiona a frequência com que Machado se refere ao deslocado social — pessoa mestiça e perseguida como ele. Por não ter sido aceito na sociedade dos brancos e – ao mesmo tempo – repudiado pelos homens de cor, tem levado certas pessoas a supor que Machado de Assis era de origem judaica.

Talvez seja verdade, pois qual o brasileiro que não tem um ancestral cristão-novo, marrano (porco), como denominam os espanhóis os judeus convertidos? À força ou por convencimento, por bem ou por mal.

O fato é que nenhum escritor brasileiro compreendeu melhor que Machado de Assis a situação do marrano. Em seu poema A Cristã-Nova, prepondera a dor da perda, a carência e a falta de amparo. Desamparo. É a pior de todas as sensações, quedar-se sem esperança. Desesperança, como no povo judeu, entre os mestiços ou os ciganos, cujo fardo é o antagonismo eterno.

Ele, o escritor, revela de um lado, um velho judeu que, olhando a Baía de Guanabara, tem saudades “virtuais” de Jerusalém; e de outro, sua jovem filha, devota do cristianismo e apaixonada por um cristão.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).Meraldo Zisman (*) 

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