terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

O PREÇO DA RETOMADA

Por Eloisa Vidal (*)

Educação é política pública que exige tempo de implementação para se alcançar resultados. Depois da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, era possível afirmar que, apesar dos percalços, a educação pública brasileira tinha um rumo. Conseguimos melhorar muitos indicadores de quantidade, como a universalização do ensino fundamental, e o atendimento crescente da educação infantil e ensino médio. Os indicadores de qualidade caminhavam a passos mais lentos, mas sempre em direção à melhoria. Isso até 2018.

Em 2019 tomamos um desvio, em que a situação mais grave foi a ausência da coordenação federativa exercida pela União. Isso levou estados e municípios a situações de fragilidade na implementação das políticas educacionais, acima de tudo, pela falta de organicidade e apoio contínuos, sistemáticos e definições claras dos rumos a serem perseguidos.

Nos anos de 2020 e 2021, durante a pandemia, o Ministério da Educação foi econômico nas orientações pedagógicas sobre o desenrolar das atividades curriculares, se omitiu de conceber e coordenar ações de âmbito nacional e esgarçou as relações institucionais. Depois de quatro anos de descasos e descuidos, é possível afirmar que houve expressivos retrocessos. Perdemos um tempo enorme com questões tangenciais como homeshooling, escola sem partido e kit gay.

Retomar a agenda de uma política pública não se coloca como um empreendimento simples, até porque é difícil construir consensos. Talvez um documento que ajude a organizar novamente o pacto federativo seja o Plano Nacional de Educação 2014 - 2024, que embora próximo do seu fim sem o atingimento de parte das metas, continua como um Plano atual e consistente. Mas, para além do PNE temos outros desafios, como a definição de novos indicadores de avaliação da qualidade da educação básica, a concepção de uma política de tecnologias digitais, a decisão sobre a continuidade da reforma do ensino médio, novas condições de acesso e permanência no ensino superior, mais recursos para as universidades públicas. Olhar para boas práticas do passado recente pode ser um bom caminho.

(*) Professora da Uece. Doutora em Educação.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/01/23. Opinião, p.18.

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