quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Saúde mental e trabalho em debate científico e ético construtivo

Por José Jackson Coelho Sampaio (*)

Pesquisadores universitários, profissionais dos serviços de saúde e estudantes de graduação e pós-graduação estarão de 18 a 21 de outubro, no campus Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Uece), nesta cidade de Fortaleza, para avançar no debate científico sobre o trabalho, a organização social do trabalho, a saúde mental e o impacto do trabalho na saúde mental, com as formas que trabalho e saúde mental tomam neste início de século XXI, em decorrência de mudanças tecnológicas, desregulamentações do trabalho e pandemia de Covid-19.

O trabalho tem sido cuidado de forma ambígua no campo da saúde. Observe-se que a anamnese hipocrática foi modificada pela 1ª vez mais de dois milênios depois de concebida e para incluir a pergunta sobre trabalho, o que gerou o desdobramento dos conceitos de "acidente de trabalho" e de "insalubridade ocupacional", embora praticados de modo precário, e que apenas no final do século XX desdobrou "penosidade", que inclui a saúde mental, conceito ainda não operativo, mesmo estando na nossa Carta Magna de 1988.

Saúde mental também é naturalizada. Numa sociedade plenamente monetarizada qualquer trabalho é melhor que o desemprego e há que se ajustar sem protestos. Numa sociedade com abissais desigualdades e muitas fomes, o tema da saúde mental é vivido como um luxo e a doença mental é vivida como fraqueza ou como ruptura de uma norma moral cujo único responsável é o indivíduo.

Trabalho e saúde mental devem ser encarados em toda a complexidade de cada termo e da relação entre eles. O II Congresso Internacional e V Congresso das Américas sobre Fatores Psicossociais, Saúde Mental e Stress no Trabalho enfrentará este debate por meio de seis conferências presenciais e oito remotas, 14 minicursos presenciais e 21 remotos, 16 mesas redondas presenciais e seis remotas, e 286 trabalhos livres (oral e poster) remotos.

Grupos de pesquisa de Brasil, México, Argentina, Guatemala, Espanha e Portugal, membros da Red de Investigadores sobre Factores Psicosociales en el Trabajo (Rifapt) e pertencentes a universidades públicas, estarão representados. Espera-se construir acordos teóricos e práticos, para que o elo estabelecido entre trabalho e saúde mental seja equacionado e melhore a qualidade de vida de todos, os que estão trabalhando, os que se preparam para o trabalho e aqueles que já trabalharam.

Usando a subjetividade para modificar a natureza, o ser humano se descobre como se olhasse para um espelho alterado por processos sociais como os da alienação decorrente de especializações, colapso do valor e abstração dos produtos. Doenças e acidentes, desgastes somatopsíquicos e psicossomáticos, sensação de esgotamento, vazio existencial e sentimento de desumanização são formas de expressão mais profundas, muito além do que evocam as expressões inglesas "stress" e "burnout".

Convidamos a sociedade cearense para prestigiar o debate por meio do acompanhamento do que será produzido e divulgado, além de comparecer ao Cine Teatro São Luiz, às 19h de 18/10/23, na ocasião da abertura e da apresentação da Orquestra Sinfônica e do Coral, da Uece.

(*) Professor titular de Saúde Pública e ex-Reitor da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/10/2023. Opinião. p.21.

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