sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Crônica: “Tudo o que sei é que eu sabia de nada” ... e outros causos

Tudo o que sei é que eu sabia de nada

Agrodésia de Vilalba, é como a conhecemos. Cheia de nove horas.

1) Indagada sobre o que era "psicossoma", respondeu professoral: "Na minha mente é o oposto de 'psicodiminuição'";

2) Ainda no campo da medicina, encabulou-se com o diagnóstico do otorrino, ao escrever que "os sintomas de sua constipação, Sra. Vilalba, estão bem acentuados", e ela respondeu contrafeita: "Negativo, doutor! Tomo três banhos diários!";

3) Sobre o pastor flagrado furtando o celular duma freira, escreveu: "Dos pecados da igreja / Esse é o mais original / Pastor furtar a freirinha / Em corredor de hospital".

Justo ela me envia historieta enviesada que reproduzo. "Meu primo Julhão, conforme o pé com que se levantasse de manhã, tinha o dia com características distintas, diferente dos outros. Se com o esquerdo, era um Rio de Janeiro; se se levantasse com o pé direito, babau. Se botasse os dois no chão, duma chibatada só, o dia era totalmente mais ou menos. Porém, no dia que não nem foi o pé esquerdo nem foi o direito, descobrimos por acaso que ele morreu. Moral da história: senão der pé, pedale com as mãos!"

O maravilhoso conto do amigo Paulo Marcelo "Bigode"

"Não recordo o ano, o que não é relevante. O fato é que, durante um certo tempo da minha vida, tinha por rotina dominical ir ao Flórida Bar - na época funcionava no Centro, olhando para a sede da Caixa Econômica Federal.

Lá, tendo por testemunha algumas cervejas ou doses do Teacher, o famoso "Le Professer", dependendo, é claro, da disposição do velho e surrado fígado para o processamento etílico, passava as horas matinais papeando com o amigo Sá Neto. Fórmula Um, futebol, personagens da rotina do Centro e algumas histórias da Fortaleza antiga faziam parte da pauta improvisada para cada encontro.

Do Centro, o Flórida Bar transferiu-se com mesas, cadeiras, toalhas, cozinheira, garçons e o estoque alcoólico pra Rua Joaquim Sá. O dono agora era Hermínio, irmão de Sá Neto.

Num belo domingo de sol, chego ao novo endereço e sou logo atendido pelo Beinha, já trazendo o tradicional tira-gosto de fatias de carioquinha com queijo prato e, obviamente, o combustível da ilusão. Após alguns goles para matar a sede - que insistia em não ceder - verifico no entorno que, numa das mesas, sentado em posição de quem já estava nocauteado pelas doses ingeridas, um cidadão teimava em voltar ao "ringue". De repente, chega um amigo do nocauteado. Puxa a cadeira e senta-se com uma saudação.

- E aí cara? Pelo visto e sentido já tomou todas!

O novo inquilino da mesa realmente era um grande amigo do colega que já estava há horas naquele local. Sua maior preocupação era levá-lo para casa onde, quem sabe, após um banho frio e um caldo quente, poderia curtir a ressaca num sono tranquilo, talvez até o raiar da segunda-feira.

- Cara, vamos pra casa! Você já bebeu demais! Tá com cara de quem começou na sexta e está no ar há mais de 48 horas.

Depois de olhar bem o amigo e analisar o convite com o pouco de lucidez que ainda lhe restava, respondeu positivamente.

- Então me deixe em casa! Mas, antes de partir, fez três pedidos: Beinha, a saideira e a conta, por favor!

E, virando-se para o amigo, lançou o terceiro e último pedido:

- Agora vá pro carro, ligue o ar-condicionado no máximo e me aguarde que chego em 10 minutos.

Promessa feita, promessa cumprida!"

Fonte: O POVO, de 22/09/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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