quinta-feira, 5 de setembro de 2024

NUNCA TIVE CONVICÇÃO

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Não nasci convicto do que fazer no futuro. Sou do tipo que vai fazendo, com amor e muita dedicação, e, assim, deixo levar.

As ocorrências dos tempos são, ao meu entender, algumas coincidências esperadas pelo acaso. Não temo as emoções, apenas as obtenho pelo corpo e pela alma que credita à vida uma mensagem. Assim, não me assumo como diferente, pois, ser mensageiro da imagem dos queridos que se foram é, para mim, a obra da vida que se firma a cada minuto e na medida que o tempo passa.

Nasci de uma mãe e de um pai como todos nós. Para mim eles eram únicos, de carne e osso, nas angústias e nos medos, nos desejos e na esperança. Creio nisso com intensidade, a qual advém da convicção do destino, dessa caminhada biológica e espiritual. Vivi, assim, os momentos de desacertos e afetividade, fui uma criança em compreensão e um adulto nas razões, que hoje as enxergo como frágeis, por vezes, tolices absolutas. Espero ter me decidido, em corpo e emoção, por abandona-las. Já que com o passar do tempo já não creio em uma só verdade, uma só aspiração.

As lembranças são marcas do passado, presentes cada vez mais a medida do envelhecimento, e, principalmente, quando nos aproximamos da morte. Essa, traz em si, as lembranças mais intensas, é quando ficam cada vez mais vivas.

A política, que exerci, foi mais um desafio às minhas convicções. Assim como a doença, que nos maltrata quando se apresenta, e em vez de passar, deixa marcas, também frutos do quê humano e das nossas contradições.

Cada ato, ao passar do tempo, induz um tom, e abre abismos na forma inocente que habitamos.

Simplesmente, por crer na utopia, mesmo sob os percalços, mesmo andando sozinho, sinto-me aliviado pela certeza da passagem, dos encontros e desencontros, vendo a justiça que não tem forma, e que, enfim, transcende aos conceitos, vem ao tempo da maturidade de cada momento. E, também, pela compreensão sobre as pessoas, que andam agora em caminho incerto, rebuscado de medo e agressões, titubeando entre o que se entende de amor e felicidade.

Aos meus filhos entrego o meu suor, demonstrando diariamente que precisamos cumprir o nosso destino. Mas, principalmente, que é justo se reinventar, nascer todo dia, sonhar por sonhar.

A meu ver, o futuro é decerto a denúncia de um passado errante. Mesmo quando é espelho de várias gerações e de projeções cada vez mais distantes, vaticina o nosso ser mais frágil, em nossas partes mais crianças.

Certo assim, que tudo será algo abstrato, e por isso impalpável, sentir energia pura, renovação e esperança dos caminhos que virão, já que não são, em instantes, os atuais. Eis que já são passado...

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/08/2024. Opinião. p.19.

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