quinta-feira, 28 de maio de 2009

Turma Dr. José Carlos Ribeiro: uma justa homenagem


Dr. José Carlos da Costa Ribeiro, filho do prestigiado médico Dr. Carlos da Costa Ribeiro, um dos fundadores e ex-presidente do antigo Centro Médico Cearense (a atual Associação Médica Cearense), e da D. Maria de Lourdes da Costa Ribeiro, nasceu em Fortaleza, em 04 de novembro de 1915.
Fez a sua formação escolar primária nos colégios Nogueira e Marista, em Fortaleza, entre 1922 e 1926, e a secundária no Colégio Militar de Fortaleza, de 1927 a 1932, saindo com a certificação de engenheiro agrimensor.
Certamente, espelhando-se em seu pai, optou por estudar medicina, tendo escolhido fazer o curso no Rio de Janeiro, iniciado em 1934, porquanto o Ceará não contava com uma escola médica. Graduou-se em medicina, aos 24 anos, diplomado em 19 de dezembro de 1939, pela Faculdade Fluminense de Medicina.
Retornou ao Ceará em 1940, assumindo então o cargo de médico no Serviço de Saúde Pública do Estado e o posto de médico da Maternidade Dr. João Moreira, atuando como especialista em Ginecologia e Obstetrícia, granjeando a absoluta confiança do seu dirigente, Dr. César Cals, como resultado da sua competência profissional, de pronto reconhecida. Quando o Dr. César Cals foi alçado, mediante sufrágio popular, ao cargo de Prefeito da capital cearense, Dr. José Carlos Ribeiro o substituiu nas atribuições da chefia do serviço, apesar da sua pouca idade; contudo, já possuía uma notória experiência médica e tino administrativo.
Casou-se, em 1941, com a Srta. Suzana Dias Ribeiro, mulher de rara beleza, eleita rainha dos estudantes do Ceará, e bastante afeita às lides literárias, como ativa participante da Sociedade das Amigas dos Livros, que o presenteou com cinco filhos: Nádja, Zóia, Annya, Carlos e Isabel; as três primeiras receberam curtos prenomes russos, reveladores de uma certa afinidade e identidade com seus mais puros ideais socialistas, enquanto para o quarto filho, acatou a sugestão de D. Suzana, de prestar uma homenagem ao seu pai, e, para a caçula, reservou, simplesmente, um nome do seu agrado.
Acompanhou de perto a educação dos filhos, vendo a formatura e a inserção profissional de cada um deles; o seu único rebento masculino, Carlos Ribeiro Neto, concedeu-lhe a grata satisfação de seguir a profissão que ele tanto amara, tornando-se médico em 1977, sendo hoje um reconhecido especialista em Hematologia e também um competente médico-legista, como fora, em tempos idos, o seu saudoso pai.
Em 1948, aos 33 anos de idade, foi elemento-chave na criação da então Faculdade de Medicina do Ceará, agindo como um verdadeiro secretário-executivo do corpo de fundadores, desde os primeiros passos, até a implantação, acumulando sucessivas atribuições, a começar pela elaboração das provas dos primeiros vestibulares, seguida do encargo de lecionar diversas cadeiras, gradualmente instaladas, atividade bem testada por ter sido um eclético e polivalente professor do velho Liceu do Ceará.
Dr. José Carlos Ribeiro emprestou relevantes contribuições à Medicina cearense, nos vários campos de sua atuação, como se demonstra a seguir: foi dele, juntamente com o Dr. Haroldo Gondim Juaçaba, a responsabilidade de se constituir o primeiro Banco de Sangue do Ceará, pondo fim à vetusta prática da transfusão braço a braço, recorrendo-se aos chamados doadores universais, adotada em Fortaleza nessa época; ele foi também o primeiro a praticar a Anestesiologia, como especialidade, trazendo importantes progressos técnicos, naquele tempo, confirmando-se a sua primazia em diferentes intervenções, que colaboraram para o avanço das técnicas cirúrgicas, proporcionando, aos cirurgiões, um ambiente de absoluta segurança e serenidade, para o ato operatório, e, desse modo, possibilitando salvar incontáveis vidas; como médico-legista, imprimiu seriedade e honestidade aos trabalhos levados a cabo no Instituto Médico Legal, instituição que dirigiu, por anos a fio, na vigência da ditadura militar brasileira, desvinculando-a de quaisquer ingerências políticas ou das forças repressivas, imperando, nesse órgão, sob a sua condução, o primado da técnica e o respeito à Justiça.
Para a classe médica cearense, o Dr. José Carlos prestou valiosos feitos, como o de ter sido o articulador principal da organização do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (CREMEC), do qual foi o primeiro presidente e, merecidamente, incorporou o registro Nº 1 desse conselho profissional; liderou um elenco de notáveis médicos para a fundação da Academia Cearense de Medicina, inaugurada em 12 de maio de 1978, por ocasião das comemorações do trigésimo aniversário da Faculdade de Medicina do Ceará, recordando, com certeza, a empreitada anterior, de 1948, que levara a efeito, quando era um jovem esculápio, legando aos médicos da terra alencarina uma nova entidade, que, sobretudo, vela pela preservação da História da Medicina no Ceará.
Era um homem disposto a enfrentar desafios, não relutando em tomar decisões, julgadas cabíveis, mesmo aquelas que, sabidamente, lhe trariam dissabores, por mexer com estruturas viciadas, anacrônicas, ou ainda por ferir melindres pessoais, situações experimentadas por ele quando ocupou os cargos de Diretor Geral do Hospital Geral Dr. César Cals e de Superintendente do Hospital Universitário Walter Cantídio.
A escolha, por meio de votação, do Prof. José Carlos Ribeiro, para dar nome à turma de médicos da UFC, de dezembro de 1977, deveu-se, principalmente, a um justo reconhecimento dos internos, ao trabalho exercido, pelo perfilado, à frente da coordenação do Curso de Medicina, quando da aplicação da reforma universitária da década de 1970, realizado com determinação e senso organizacional, contornando as intensas tempestades, decorrentes da malsucedida e anômala experimentação, que a UFC ousou testar em seres humanos; o Prof. José Carlos desdobrou-se, não poupando esforços para minimizar as inquietações que tanto acometiam os acadêmicos, ao ensejo das matrículas curriculares, por gerarem incertezas quanto à previsão do término curso.
Faleceu em sua querida cidade natal, em 08 de novembro de 1994, aos 79 anos de idade, após longa enfermidade, enfrentada com altivez, e talvez com a típica rebeldia, de quem sempre fora um destemido. Ao seu velório, ocorrido no Salão Nobre da Reitoria da UFC, compareceram e se acotovelaram centenas de pessoas de variados segmentos da sociedade, como políticos, professores universitários, médicos e outros profissionais, para anunciar a solidariedade à família enlutada e render honras para aquele que tanto fizera, direta e indiretamente, à gente cearense, como médico, professor e administrador de inegáveis méritos.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico da turma 1977 da UFC

* Publicado in: Revista Histórias da Saúde. Janeiro/Março de 2009 – ano XI, n.18, p.12-3.

3 comentários:

Murillo disse...

Obrigado Dr. Marcelo, por fazer tão belo relato da importância de meu saudoso avô na medicina cearense. Murillo Ribeiro Moreira

Marcelo A Guanabara disse...

Boa noite fiquei curioso quanto a este trecho da história "contornando as intensas tempestades, decorrentes da malsucedida e anômala experimentação, que a UFC ousou testar em seres humanos" poderia discorrer mais?

Marcelo Gurgel disse...

Caro Sr. Marcelo Guanabara,
O trecho se reporta à implantação de um Ciclo Básico de duração de um ano após a aprovação no vestibular de janeiro de 1972 e aos alunos matriculados em cursos, cujas escolhas iniciais foram conduzidas com base em duas áreas Ciências e Humanidades, conforme a ordem de classificação.
A escolha definitiva do curso dependeria de uma nova classificação nessas duas horas de conformidade com o rendimento nas disciplinas do primeiro ano. Foi uma experiência traumatizante aos alunos, em uma sucessão de quatro provas por disciplina, em uma concorrência desenfreada e repleta de iniquidades.
Os alunos eram dispostos em salas pouco confortáveis, contendo 50 ou mais deles, reunidos por ordem de sobrenomes. Vários professores eram inexperientes ou recém-contratados e outros veteranos pouco motivados para lecionar em turmas bastante heterogêneas.
A própria UFC, reconhecendo a decisão equivocada, decidiu interromper a empreitada, fazendo a classificação ao cabo do primeiro semestre, o que suscitou uma avalanche de processos judiciais impetrados por alunos que, ao final, saíram vitoriosos e puderam garantir a opção feita à época do vestibular.

 

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