quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

UM POSTE SEM LUZ VERSUS UMA LUZ SEM POSTE

Por Ricardo Alcântara (*)
Um: o principal vetor da sucessão municipal de Fortaleza é a manutenção (ou não) da aliança entre governador e prefeita. Dois: o partido dela tem precedência de iniciativa para indicar o candidato. Findam aí as certezas.
Algumas lideranças do PT confirmam que a prefeita Luizianne Lins deverá mesmo empenhar-se na indicação do seu “companheiro nº 1”, Waldemir Catanho, como candidato do partido à sua sucessão.
Ao tentar manter seu grupo político à frente da gestão municipal –  conclusão inevitável – a prefeita avalia que terá força eleitoral suficiente para prescindir do apoio do governador aliado. E de alguns outros mais.
O problema para ela não é a ausência do governador no palanque de seu candidato, mas a presença dele em outro palanque ou, pior, a pulverização da base aliada em diversas candidaturas com nomes de boa projeção.
Apesar de sua timidez pessoal, pois o governador não é lá nenhum Ciro Gomes, as ações do seu governo são, a preço de hoje, bem melhor avaliadas pela população da capital do que o desempenho da prefeita.
Se todo o problema fosse somente este, menos mal. Não é. No front interno, não é pacífica a aceitação do nome preferido pela prefeita. Há até, quem suporte engolir o sapo, dizem, mas ao elevado custo de lavar as mãos.
E há quem já ameace levar a decisão para as prévias, aquele modelo fratricida de disputa interna em que às vezes se escolhe um nome para ser derrotado pelas conseqüências desagregadoras do processo de escolha.
Artur Bruno tem alegado precedências pessoais que o impediriam de aceitar como fato consumado uma indicação imperial da prefeita. Se não estiver blefando, o deputado tem tutano para engrossar o caldo.
Ao insistir com o nome de Catanho, a prefeita sabe que escolheu o caminho mais difícil. Confia, provavelmente, que não será interrompida a curva, ainda lenta, de recuperação de popularidade de sua gestão.
Confia nisso e confia no potencial de transferência de Lula. Talvez confie, ainda, que, dos instrumentos de pressão do governo federal, soprem bons ventos na direção em que pretende guiar seu barco.
Como se pode perceber, a prefeita parece apostar apenas em fatores potenciais para garantir a eleição do seu “poste sem luz” – infeliz expressão que deverá acompanhar seu candidato como uma sombra na campanha.
Se Catanho seria o “poste sem luz” da prefeita (e não creio que o rapaz seja apenas isso), Bruno vaga pelos bastidores do partido como uma “luz sem poste”, de atributos meritórios, mas carente de necessária sustentação ao seu brilho.
Se o deputado Artur Bruno for preterido, não poderá crucificar a prefeita: mesmo com sua boa imagem junto ao eleitorado petista da capital, há, em várias frentes internas, fortes resistências à indicação do seu nome.
No PT, Bruno é percebido como alguém que se movimenta com excessiva autonomia para os padrões coletivistas do partido. Se o seu prestígio social lhe garantiu esta prerrogativa, hoje pesa contra sua escolha.
O deputado é – e as pesquisas dizem isto – o nome do partido em condições de ocupar melhor posição na largada. É um fator importante? Sim, mas, se são somente essas as suas cartas, Bruno deverá encontrar dificuldades.
Luizianne Lins tem dito que até meados de janeiro próximo o candidato do partido estará escolhido por um conjunto hegemônico de forças internas. A data pode marcar o início de uma grande confusão, isto sim.
Aos meus três leitores
Problemas técnicos andaram comprometendo a assiduidade com que tenho enchido o saco de vocês. Sinto informar, mas estamos de volta. Conto com a compreensão de todos.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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