A MORTE DE
RACTCLIFF
Ulisses
Brandão - "A Confederação do Equador", pág. 287.
João Guilherme Ractcliff, cujo nome se acha tão ligado à
história das ideias liberais no Brasil e que foi uma das vítimas do movimento
republicano de 1824 em Pernambuco, viu-se condenado à morte, na Corte, a 15 de
março de 1825, sendo conduzido à forca no dia 17, com os seus dois companheiros
de jornada, João Metrowick e Joaquim da Silva Loureiro. No local do suplício
tentou falar ao povo, e começou:
- Brasileiros! Eu morro inocente; morro pela causa da
razão, da justiça e da liberdade! Praza ao céu que o meu sangue seja o último
que se derrame no Brasil e no mundo por motivos políticos...
Ia continuar, mas o padre que o acompanhava pediu-lhe que
o não fizesse. Ractcliff atendeu-o, acrescentando, apenas:
- Eu me resigno, e morro pela causa da Liberdade!...
REMÉDIO SEM USO
J.M. de
Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 498.
Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de
Albuquerque, Visconde de Albuquerque, que foi senador de 1838 a 1863, e um dos
estadistas do Império que sobraçou maior número de pastas ministeriais, era
temido no Senado pela franqueza com que julgava, incisivamente, os homens e os
fatos.
Certa vez, em 1848, acabava um dos membros do governo de
dar, da tribuna, informações sobre a grave situação do país, quando o visconde
se ergueu:
- Senhor presidente! -
começou. - O país vai mal, e o seu estado
não melhorará enquanto não se enforcar algum ministro. Tenho dito.
E sentou-se.
ÁGUIAS E PERUS
A. Cerqueira
Mendes - "Figuras Antigas", vol. I, pág. 71.
O Visconde de S. Lourenço e o Barão de Cotegipe, dois dos
maiores espíritos do Senado do Império, viviam quase sempre em divergência.
Certo dia, historiava o primeiro, da tribuna, a sua atuação na política
nacional, a sua preocupação em pôr em evidência os homens de real merecimento,
quando Cotegipe começou a aparteá-lo.
- Eu também tenho feito o mesmo e, no entanto, só tenho
colhido desilusões, - declarou o Barão.
- Mas há uma diferença,
- replicou S. Lourenço.
E alteando a voz:
- É que eu tenho criado águias, e V. Excia. perus!
DIPLOMACIA
PARAGUAIA
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro"
Era José Maria do Amaral ministro do Brasil no Paraguai,
quando, em uma audiência que lhe fora concedida pelo ditador Lopez, com a
assistência do respectivo ministro dos Estrangeiros, teve de apresentar uma
série de queixas formuladas pelo governo Imperial. Ao expor o caso de mau
tratamento dado pelas autoridades paraguaias ao comandante de um navio
brasileiro, Lopez o interrompeu, brusco:
- Mente Usted!
José Maria estremeceu com aquele modo de contestar, mas
continuou. E o ditador, de novo:
- Mente Usted!
Concluída a exposição, durante a qual Solano Lopez
desmentiu quatro ou cinco vezes, sumariamente, o nosso ministro, coube ao
ditador a vez de falar. À enunciação, porém, do Primeiro fato, José Maria o
interrompeu, claro:
- Mente V. Excia.!
- Como é isso? - bradou
Lopez, furioso. - Eu minto? Dizer-me a mim que
minto?
- Perdão, Excia., -
observou José Maria, respeitoso.
E numa reverência:
- Estou apenas usando uma fórmula da diplomacia
paraguaia!
E continuou a desmentir.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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