Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Entre
o aparecimento do homem e o início de 1800 a população somava 1 bilhão. Pouco
mais de 1 século tal contingente alcançou 2 bilhões, em 1920, e em 50 anos
duplicou (4 bilhões) em 1970. Acreditam os cientistas que não viveremos outra
centúria. Para o geneticista Bertrand Zobrist a grande ameaça é o inexorável
aumento populacional para 9 bilhões, em 2050. Para tanto estariam contribuindo
a média crescente de idade e a redução dos meios de subsistência, engendrando o
colapso apocalíptico.
Aumentando
nosso desassossego, o fúnebre prognóstico é esposado pela dra. Elizabeth
Sinskey, diretora da OMS. Essa profecia do dr. Zobrist, fã de Dante, alia-se às
premonições do famoso economista Thomas Malthus (1766-1834), e do pesquisador
norte-americano Ray Kurzweil para 2045, quando a fusão homem/máquina geraria os
“cyborgs” (ver meu artigo “2045”, neste canto, em 27/3/2013). Estaria
campeando, soberana, a “Saligia”, acrônimo de soberba, luxúria, gula, ira, e
acédia (preguiça), os 7 pecados mortais mencionados pelo maior poeta italiano
Dante Alighieri (Florença, 1265 – Ravenna, 1321), na sua “Divina Comédia”
(1321), profunda visão cristã da temporalidade humana e seu eterno destino.
Para
atenuar tamanha catástrofe demográfica, esse suíço trans-humanista cultiva e
propõe a liberação de vírus (inferno) para esterilizar uma entre três pessoas.
Curiosamente, a multiplicação dos povos motivou para alguns autores a
conveniência mesmo da sua morte, neste planeta onde – dizem – já escasseiam
lugares para tanta gente. A médica Sienna Brooks, relevante personagem do
“Inferno”, de Dan Brown (Anchor Books, New York, maio, 2014) argumentou ser
normal a extinção pela superpopulação. Exemplificou com colônias de algas
vivendo em tanques, onde reproduzem-se excessivamente cobrindo o sol e evitando
o crescimento de nutrientes.
A
morte “conveniente” está por igual mencionada nos três livros da suíço-norte-americana
Elizabeth Kübler-Ross, notadamente em “Sobre a Morte e o Morrer” (Ed. Edart,
Universidade de São Paulo, 1977). Foi ela a criadora da “tanatologia”: estudo
da morte, máxime suas implicações psicológicas. Ilustrando históricas
hecatombes, cita a peste negra de Florença, no século XIV (1346-1350), quando
foi dizimado um quarto dos europeus (25 milhões); nesse livro alude à elevada
mortalidade da Aids.
Sugerimos
a (re)leitura de minhas considerações aqui publicadas em “Os Impostos e a
morte”, de 17/7/2013. Contudo, não adentremos tão movediço terreno, e deixemos
que nele só rinhem os sábios. Os 100 cantos da “Commedia” de Dante,
posteriormente denominada “La divina Commedia” é o mais relevante poema épico
da Idade Média, e revelam sua jornada através do inferno, do purgatório e do
paraíso com dois guias, os espíritos de Virgílio e Beatriz Portinari, esta seu
primeiro e maior amor. O livro de Dan Brown (mesmo autor do “Código de Da
Vinci”) tem aquele tripé necessário para os “bestsellers”: cativantes enredo,
personagens, e ideias. Leia-mo-los e descansemos em paz.
(*) Médico,
ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 22/2/2015. p.8.
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