terça-feira, 30 de agosto de 2016

LIÇÕES TEDESCAS



Naquela tarde fatídica de 8/07/2014, muitos milhões de brasileiros, postados diante de televisores, telões etc., pareciam não crer no que seus olhos viam. A seleção brasileira de futebol era massacrada pelo escrete germânico na Copa da FIFA, em uma sequência de gols que simulavam um replay de melhores lances do jogo.
O time alemão bem que poderia ter alargado o resultado, passando de sete para um número qualquer contendo dois dígitos, talvez não fazendo isso, como um gesto de delicadeza, para não humilhar o país anfitrião do torneio ou desonrar o adversário, detentor de grandes feitos no esporte bretão, em um passado de glórias que fica cada vez mais distante.
Logo após o retumbante fracasso do esquadrão nacional, pulularam explicações envolvendo a desorganização técnica, a falta de entrosamento do elenco, montado no curto prazo por astros brasileiros de milionárias equipes do futebol europeu, aos quais se impingiam o excesso mercenário e a carência do brio patriótico.
Para o outro lado, sobraram os encômios conectados à organização e ao planejamento cuidadoso, que culminaram na quase perfeição técnica, em que disciplina, determinação e arrojo se irmanavam para a consecução do objetivo traçado de conquistar a Copa.
Essa lição tedesca, todavia, não pode cingir-se ao episódio futebolístico, cabendo trazer a lume um paralelo com a seriedade da política e o compromisso moral que bem distinguem Brasil e Alemanha.
Em 9/2/13, a ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan, foi instada pela chanceler Angela Merkel a renunciar ao cargo, depois de perder o título de doutora pela Universidade Heinrich Heine, sob a acusação plágio em sua tese.
No Brasil, em julho de 2009, descobriu-se que a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, fortificara o seu currículo, robustecendo-o com os títulos de mestrado e de doutorando da Unicamp.
Essa dupla falsidade ideológica, que ensejaria a pronta defenestração do cargo ministerial na Vaterland de Goethe, aqui na terra de tantos heróis sem-caráter não suscitou qualquer penalidade à infratora, que, aliás, foi premiada e ungida por Lula com a indicação para concorrer à Presidência da República.
É de se pensar que se o Brasil houvesse seguido a lição alemã, e estivesse sob a égide da honradez e da honestidade, os brasileiros não estariam vivenciando hoje um toco-traumatismo, para expulsar um concepto presidencial teratogênico.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e economista
* Publicado, com pequena redução, In: O Povo, de 30/08/2016. Opinião p.10.

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