sábado, 6 de agosto de 2016

Perdas sentidas – Yolanda Queiroz e Ivens Dias Branco


Por João Soares Neto (*)
A morte, independente da crença, do agnosticismo ou do ateísmo das pessoas é ainda, para não fugir ao lugar comum, mistério. Pensadores, não os mais recentes, debruçaram-se sobre o fim da vida. Cito dois para mostrar o impacto quando alguém está próximo do fim ou quando se disserta sobre a morte.
Sêneca, sempre citado, foi coevo de Cristo. Ele, em “Cartas a Lucílio”, afirma: “Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte”.
Em contraponto, o escritor francês L-F. Céline, morto em 1961, destoa: “A maior parte das pessoas morre apenas no último momento”. Mas faz ressalvas, logo em seguida: “Outras começam a morrer e a se ocupar da morte vinte anos antes, e às vezes até mais. São os infelizes da terra”.
Recentemente, no curto espaço de uma semana, perdemos duas pessoas que viveram até o último momento. Yolanda Vidal Queiroz e Francisco Ivens Sá Dias Branco foram combatentes ao longo de suas vidas.
D. Yolanda, em 1982, perdeu o marido, o empresário Edson Queiroz, de forma abrupta. Abatida, mas não desistente, apegou-se à fé que possuía e, em pouco tempo, com a parceria da família e o seu primogênito Airton José Vidal Queiroz, a lhe dar força e o ombro, tomou jeito e gosto para a sua nova, longa, árdua e vitoriosa caminhada.
D. Yolanda comandava o Grupo Edson Queiroz-GEQ que tem como joia da coroa a Universidade de Fortaleza. Afora a Unifor, a partir do escritório do seu pranteado marido, transformado em relicário, D. Yolanda dirigia um complexo empresarial que se dá ao luxo de ser fechado. Sem espaço para IPO ou abertura de capital. Ela sabia o que acontecia, em âmbito nacional, nas suas áreas tentaculares de comunicação, distribuição de gás, fábrica de eletrodomésticos e forte presença agropecuária.
O GEQ representa hoje a doçura e a tenacidade de D. Yolanda aliada à meticulosa alma profissional e sensibilidade do filho Airton compor o mundo pelas versões multiformes do paisagismo e da arte espraiada na Unifor. A par disso, emergem a energia e as possibilidades da terceira gestão.
Na missa de 7º. Dia de D. Yolanda, a neta Joana falou: “Minha avó sempre foi o centro de nossa família e ainda vamos ter que aprender a viver sem sua referência fisicamente conosco”.
Ivens, desde cedo, foi companheiro de seu pai, o panificador português Manuel Dias Branco, vitorioso no interior do Ceará e de lá para Fortaleza.  Já industrial de sucesso, Manuel, com saudade da terra mãe, transfere ao jovem Ivens, em 1953, o comando de uma emergente indústria.
A partir daí, a desenvoltura foi a práxis da M. Dias Branco e da Idibra que, ano após ano, cresciam e mereciam o reconhecimento da sociedade do Ceará e do Brasil. A citação de Ivens entre os bilionários brasileiros na lista anual da revista “Forbes” não é uma contraprestação de favor, mas reconhecimento que se consolidara em pouco mais de 60 anos de sua gestão, sempre espartana.
Para os que não sabem, Ivens era viajor e leitor qualificado, curioso, com olhar de “insider” empresarial ao identificar, implantar e equilibrar em sua balança empresarial atividades distintas, como empreendimentos imobiliários, fábrica de cimento e moinho de trigo, ao seu “core business” de líder nacional na área de massas e biscoitos.
Sempre ligado à família, já na terceira geração, lutou como fazem os fortes surpreendidos por doenças graves. A discrição, o arrojo e a organização eram as suas características basilares, aliadas ao bem fazer aos seus colaboradores acometidos por males do bolso, do corpo ou da alma. Suas empresas, consolidadas, continuam fortes e antenadas sob o olhar capaz do predefinido sucessor, Ivens Jr., coadjuvado pela família.
Ambos, Yolanda e Ivens, profissionalizaram as diversas empresas que compõem os seus distintos grupos. Tiveram o discernimento de, no tempo devido, auscultar familiares, diretores e consultores externos para dar formatação e  continuidade aos complexos meandros de suas organizações  que compõem a dura vida empresarial brasileira. Filhos e netos cresceram vendo exemplos, a forma mais próxima da verdade de educar e de dar sentido ao que se faz por destino, amor e coragem.
Às famílias Queiroz e Dias Branco, o meu pesar.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal O Estado-CE, em 1º/07/2016.

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