Por Paulo
Elpídio de Menezes Neto (*)
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O segundo vocábulo, “demo”, de origem distante e imprecisa,
vem a ser variante de designações perdidas com o correr dos tempos como
registro de “povo”. Datam da antiguidade grega alguns conceitos léxicos e
sociais que distinguem o povo, entidade vaga, por vezes em oposição aos
governantes, outras como entidade soberana. Os escritores dessa idade remota pouco
tinham de sociólogos ou politicólogos; deixavam-se guiar pelos caprichos
estilísticos na escrita, assim o exigiam as leis da retórica. No mais das
vezes, empregavam um termo pelo outro, sem qualquer preocupação com o seu
significado ou coerência, que não fosse a elegância do texto.
Reconhecemos “democracia” como paradigma de certezas e
virtudes e brandimo-lo contra tudo que a pudesse desvirtuar ou comprometer.
Sobressaem, entretanto, nessa semântica de conceitos, valores e pressupostos
excludentes, segundo a métrica de nossa visão, uma espécie de “água da
amargura”, quem não acreditasse em suas peregrinas virtudes morreria,
contaminado pelas impurezas da negação. Os modelos e variantes da democracia se
sucederam, e já não coincidem, tampouco se ajustam aos ideais que a inspiraram.
O “neopopulismo” de esquerda ou de direita apoderou-se, dissimuladamente, dos
governos latino-americanos e de velhas nações europeias, de cara nova, e
promessas sedutoras.
O “neopopulismo” representa manifestações contestatárias,
dominadas por bandeiras ilusórias, empunhadas por chefes carismáticos.
Os novos “condottieres”, os “caudillos” repaginados,
reproduzem-se à sombra da incultura política e da esperteza de lideranças
redentoras, e exacerbam paixões identitárias: protecionismo, nacionalismo,
intervencionismo e autoritarismo. Esses profetas da Revelação reproduziram-se,
nos últimos tempos, diante da inércia fatalista das massas crédulas. A
confiança brota, assim, do povo convencido pelas pressões de “marketing político,
da “ordália” dos desígnios do poder e de uma cultura “pós-factual”,
ideologizada, que tudo contamina.
O “neopopulismo” reflete lenta e indistinta transmutação dos
ideais da sociedade dominada por irresistível tentação autoritária,
compartilhada incestuosamente pela direita da esquerda e pela esquerda da
direita. A democracia tem chances reais de sobreviver em uma sociedade bem
governada. Na medida em que a mediocridade dos atores públicos for contida pela
“inteligência” coletiva do sistema político.
(*) Cientista político. Membro da Academia Brasileira de Educação
e do Instituto do Ceará.
Fonte: O Povo, 1/02/17. Opinião, p.8.
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