segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A DOENÇA DA VIOLÊNCIA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Quando o clima de insegurança atinge a sociedade como um todo, a violência transforma-se numa reação corriqueira. Estudos demonstram que gestação que evolui em clima de medo, agressão, desamparo - influi na personalidade do indivíduo. O fortalecimento dos vínculos familiares é a única prevenção da doença da violência.
É muito importante destacar que o desenvolvimento educacional deverá estimular os sentimentos de compaixão, compreensão e solidariedade; maneira essencial de criar uma cultura da não violência. Uma das principais linhas de trabalho consiste em estabelecer "circuitos interativos" visando ampliar o campo da reflexão e de alternativas e de condutas cordiais entre as pessoas. Digo, sem sombra de dúvidas que a cultura do "não violência" tem início dentro da família. Seguem-se alguns exemplos práticos de comportamentos.
- Quando você arranca o brinquedo da mão do seu irmão, ele fica assustado e chora e eu fico muito zangada com você; aí a gente briga e você fica triste, achando que eu gosto mais dele do que de você. Não seria melhor conversar com seu filho ou filha sobre o assunto?
- Sei que você está chateado(a) porque não vou poder sair com você, agora. Acontece que cheguei em casa muito cansada. Mas, em vez de ficar triste, poderíamos combinar outra coisa?
- Fico danado da vida quando encontro sua toalha molhada em cima da cama. Coloque-a no banheiro, por favor, em vez de dizer: - Só um a idiota é capaz de deixar uma toalha molhada em cima da cama!
- Pô, pai, você é careta demais mesmo, não dá pra entender por que eu quero ir a essa festa? Tente negociar uma solução mais satisfatória do tipo "Vamos tentar chegar a um acordo sobre o horário de sair da festa".
Senhores pais, em vez de se preocuparem com ganhar ou perder a discussão, preocupem-se em encontrar uma solução. Resolver o problema sem atacar a pessoa é promover a Educação para a Paz.
Muitos pais batem nos filhos - não só porque não conseguem colocar limites de modo firme, sereno e consistente, mas, sobretudo, porque acham que este é um meio legítimo de impor disciplina. No entanto, quando perguntados se acham que os professores ou a babá poderiam dispor desse recurso para serem obedecidos, ficam indignados e respondem: Claro que não! Portanto, se os pais acham que educadores e empregadas domésticas precisam usar métodos não violentos para colocar limites e estimular o cumprimento das tarefas, por que eles próprios não conseguem fazer o mesmo?
Diversos métodos não violentos de disciplina devem ser pensados, tais como colocar a criança "para pensar", privá-la temporariamente de coisas de que ela gosta ou restringir atividades tais como brincar com amigos ou ver TV ou entrar na Internet. O mais importante é saber que ninguém nasce violento. É preciso construir a mentalidade de que a violência é inaceitável, por parte de todos. A violência é um comportamento "aprendido" no processo socialização.
As linhas de ação para a prevenção e o tratamento da violência começam em casa. Devemos nos lembrar de que o ciclo da violência tende a passar de uma geração a outra: números expressivos dos adultos e adolescentes violentos, foram crianças vítimas de abusos de outros adultos quando crianças...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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