terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

CORONAVÍRUS: pânico midiático & econômico


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
é bom lembrar que, se quiserem alarmar a população, basta publicar as estatísticas de mortalidade causadas por fome, verminose e por males provocados pela nossa desnutrição, problema ancestral.
Esclarecimento deste artigo:
Os coronavírus correspondem a um grupo de vírus pertencentes à família “Coronaviridae” que são responsáveis por infecções respiratórias que podem ser leves ou bastante graves dependendo do (corona) vírus responsável pela infecção e do sistema imunológico do paciente.
Segundo os dicionários, o verbete pânico (em grego, panikón) significa algo que assusta sem motivo, em outras palavras, um terror infundado. No que lhe concerne, a Sociologia afirma tratar-se de reações inteiramente descontroladas de uma multidão, diante de um perigo, real ou aparente, nascidas do medo que esse perigo produz.
No Brasil, ninguém mais contesta a circulação da nova onda de infecções respiratórias que assola o mundo. Algumas pessoas vão morrer dessa moléstia, como, de resto, morrem de tantas outras, vítimas das demais variedades de infecções respiratórias, conhecidas ou desconhecidas pelos estudiosos do assunto. O Ministro da Saúde e os infectologistas acautelam sobre as probabilidades e os riscos da doença, sem fazer alarde acerca das medidas que os brasileiros devem adotar, principalmente em períodos de viagens.
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Venho aqui apelar e invocar a autocrítica de nossa imprensa, no sentido de não provocar uma epidemia de medo coletivo. Sem desejar comparar pessoas a animais, sabemos como é terrível o estouro de uma boiada…
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Muito embora não seja infectologista e sim médico psicoterapeuta, testemunho um pânico na sociedade. Desta forma, venho aqui apelar e invocar a autocrítica de nossa imprensa, no sentido de não provocar uma epidemia de medo coletivo. Sem desejar comparar pessoas a animais, sabemos como é terrível o estouro de uma boiada. E quem já trabalhou em emergências de hospitais, em dias de jogos, conhece de perto o quão trágico são o pânico dos torcedores e as tragédias causadas por brigas entre as torcidas.
Peço a Deus que apareça logo outro assunto (escândalos não faltarão) para que a irresponsabilidade de quem redige as manchetes e notícias dos telejornais seja saciada e a população possa esquecer, um pouco, a nova epidemia desse coronavírus.
Não é necessário ser jornalista para saber que as más notícias vendem muito mais. Os jornalistas gostam de notícias ruins exatamente por esse motivo. Destarte, elas ajudam que seja levada para casa uma quantidade maior de “leite das crianças”. E, como é duro se ganhar o pão, nada melhor do que uma manchete trágica para chamar a atenção do público.
No entanto, é bom lembrar que, se quiserem alarmar a população, basta publicar as estatísticas de mortalidade causadas por fome, verminose e por males provocados pela nossa desnutrição, problema ancestral.
Os profissionais de imprensa não são, em sua maioria, pessoas sadomasoquistas. Contudo, se escreverem que, no Brasil, se morre mais de diarreia e verminose, por semana, do que se morre em decorrência de todos os resfriados juntos, isso não proporcionará uma manchete atraente.
Até parece que as pessoas estão brincando com a síndrome do pânico da infecção respiratória vinda da China. Cuidado, com a saúde não se brinca, em particular, com a mental. Seria mais saudável se o Governo levasse adiante um programa de esgotos sanitários; como profissional da Saúde, garanto uma coisa: tal medida iria diminuir, pela metade, as mortes causadas por ingestão de águas contaminadas.
Sem desejar diminuir o risco do coronavírus do momento, lembro que a cada 15 minutos uma pessoa morre em acidente de trânsito no Brasil. Apesar de impactantes, as estatísticas já foram piores. Gradualmente, o país vem conseguindo reduzir as mortes, bem longe da meta da Organização das Nações Unidas de reduzir pela metade os óbitos em uma década (2011 a 2020).
Segundo DADOS, os acidentes rodoviários alcançam no Brasil em torno de 45 000 óbitos anualmente.
A quem se preocupa mais com a Economia do que com a Saúde:
– O custo por acidentado rodoviário (não fatal) é de 90 000 mil reais e quando fatal sobe para 550 mil reais (incluindo os óbitos após 72 horas do acidente), segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso quando a cotação oficial – como hoje – do real em relação ao dólar norte-americano é de um dólar para 4,25 reais. A maioria dos nossos equipamentos hospitalares é importado e seu custo é alto…

Pessoalmente estou muito mais preocupado com a falta do saneamento básico no Brasil. Lembro que a solução para o saneamento básico vem sendo adiada desde muito antes deste governo e a imprensa oficial e agora a social nada comentam, desde o último surto (de cólera) ocorrido em Londres em 1854, que serviu de lição sobre a importância do saneamento e a propagação das Epi/Pandemias
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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