Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
…é bom lembrar que, se quiserem
alarmar a população, basta publicar as estatísticas de mortalidade causadas por
fome, verminose e por males provocados pela nossa desnutrição, problema
ancestral.
Esclarecimento
deste artigo:
Os coronavírus correspondem a um grupo de vírus pertencentes à família
“Coronaviridae” que são responsáveis por infecções respiratórias que podem ser
leves ou bastante graves dependendo do (corona) vírus responsável pela infecção
e do sistema imunológico do paciente.
Segundo os dicionários, o verbete pânico (em
grego, panikón) significa algo que assusta sem motivo, em outras palavras, um
terror infundado. No que lhe concerne, a Sociologia afirma tratar-se de reações
inteiramente descontroladas de uma multidão, diante de um perigo, real ou
aparente, nascidas do medo que esse perigo produz.
No Brasil, ninguém mais contesta a circulação
da nova onda de infecções respiratórias que assola o mundo. Algumas pessoas vão
morrer dessa moléstia, como, de resto, morrem de tantas outras, vítimas das
demais variedades de infecções respiratórias, conhecidas ou desconhecidas pelos
estudiosos do assunto. O Ministro da Saúde e os infectologistas acautelam sobre
as probabilidades e os riscos da doença, sem fazer alarde acerca das medidas
que os brasileiros devem adotar, principalmente em períodos de viagens.
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Venho aqui
apelar e invocar a autocrítica de nossa imprensa, no sentido de não provocar
uma epidemia de medo coletivo. Sem desejar comparar pessoas a animais, sabemos
como é terrível o estouro de uma boiada…
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Muito embora não seja infectologista e sim
médico psicoterapeuta, testemunho um pânico na sociedade. Desta forma, venho
aqui apelar e invocar a autocrítica de nossa imprensa, no sentido de não
provocar uma epidemia de medo coletivo. Sem desejar comparar pessoas a animais,
sabemos como é terrível o estouro de uma boiada. E quem já trabalhou em
emergências de hospitais, em dias de jogos, conhece de perto o quão trágico são
o pânico dos torcedores e as tragédias causadas por brigas entre as torcidas.
Peço a Deus que apareça logo outro assunto
(escândalos não faltarão) para que a irresponsabilidade de quem redige as
manchetes e notícias dos telejornais seja saciada e a população possa esquecer,
um pouco, a nova epidemia desse coronavírus.
Não é necessário ser jornalista para saber
que as más notícias vendem muito mais. Os jornalistas gostam de notícias ruins
exatamente por esse motivo. Destarte, elas ajudam que seja levada para casa uma
quantidade maior de “leite das crianças”. E, como é duro se ganhar o pão, nada
melhor do que uma manchete trágica para chamar a atenção do público.
No entanto, é bom lembrar que, se quiserem
alarmar a população, basta publicar as estatísticas de mortalidade causadas por
fome, verminose e por males provocados pela nossa desnutrição, problema
ancestral.
Os profissionais de imprensa não são, em sua
maioria, pessoas sadomasoquistas. Contudo, se escreverem que, no Brasil, se
morre mais de diarreia e verminose, por semana, do que se morre em decorrência
de todos os resfriados juntos, isso não proporcionará uma manchete atraente.
Até parece que as pessoas estão brincando com
a síndrome do pânico da infecção respiratória vinda da China. Cuidado, com a
saúde não se brinca, em particular, com a mental. Seria mais saudável se o
Governo levasse adiante um programa de esgotos sanitários; como profissional da
Saúde, garanto uma coisa: tal medida iria diminuir, pela metade, as mortes
causadas por ingestão de águas contaminadas.
Sem desejar diminuir o risco do coronavírus
do momento, lembro que a cada 15 minutos uma pessoa morre em acidente de
trânsito no Brasil. Apesar de impactantes, as estatísticas já foram piores.
Gradualmente, o país vem conseguindo reduzir as mortes, bem longe da meta da
Organização das Nações Unidas de reduzir pela metade os óbitos em uma década
(2011 a 2020).
Segundo DADOS, os acidentes rodoviários
alcançam no Brasil em torno de 45 000 óbitos anualmente.
A quem se
preocupa mais com a Economia do que com a Saúde:
– O custo por acidentado rodoviário (não
fatal) é de 90 000 mil reais e quando fatal sobe para 550 mil reais (incluindo
os óbitos após 72 horas do acidente), segundo dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea). Isso quando a cotação oficial – como hoje – do real
em relação ao dólar norte-americano é de um dólar para 4,25 reais. A maioria
dos nossos equipamentos hospitalares é importado e seu custo é alto…
Pessoalmente estou muito mais preocupado com
a falta do saneamento básico no Brasil. Lembro que a solução para o saneamento
básico vem sendo adiada desde muito antes deste governo e a imprensa oficial e
agora a social nada comentam, desde o último surto (de cólera) ocorrido em
Londres em 1854, que serviu de lição sobre a importância do saneamento e a
propagação das Epi/Pandemias
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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