quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

EDUCAÇÃO: o máximo valor


Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Por volta do século X, as elites da aristocracia e da Igreja Católica, sobretudo esta, como vanguarda socioeconômica e cultural, criaram a Universidade. A consciência da complexidade econômica, diplomática e geopolítica do momento exigia gestão e decisão baseadas em conhecimento, não mais em intuição, improviso, pensamento mágico, crença formal. Essa criação é raiz da sociedade que somos hoje.
Quando vários movimentos políticos contestatórios varrem a Europa na transição do século XVIII para o XIX, a educação evidencia-se como base do desenvolvimento econômico, da democracia e da cidadania, esta última sem a qual as anteriores não se poriam em pé. Surge a consigna: sem, no mínimo, quatro anos de escolaridade fundamental, garantidos pelo Estado, ninguém é cidadão, portanto, não haveria democracia.
O valor da educação como garantia do desenvolvimento passa, gradativamente, a ser consenso civilizado, até sua captura também como mercadoria, commodities, no século XX, gerando grandes e pequenas empresas do serviço educação. As reformas norte-americanas dos anos 1950 são a raiz contemporânea da compra e venda do ensino, hoje com presença nas bolsas de valores.
Do consenso histórico acumulado - educação tem máximo valor de uso e de troca - emerge, abruptamente, a questão: de qual educação estamos falando? A pública e gratuita, com valor de produção de conhecimento desinteressado e de cidadania? A privada e comprada, com valor de mercado? Educação emancipadora e crítica? Educação adestradora e instrumental?
São terríveis as contradições que a sociedade brasileira vive hoje, entre pobreza e riqueza, misturadas de modo perverso; entre atraso e progresso, misturados de modo perverso; e entre autonomia criadora e submissão reacionária, misturadas, até burlescamente, de modo perverso.
De qual educação necessitamos? A que emancipa e faz crescer os indivíduos e a sociedade, respeitando democraticamente a pluralidade de ideias. Pois somente aí atingiremos o máximo valor real. Estado, sociedade e mercado, em equilíbrio pactuado pela ética do bem-estar social, responsáveis pelas garantias democráticas e pelo processo civilizatório, assumem os projetos fundantes: segurança, saúde e educação.
(*) Professor titular de Saúde Coletiva e Reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 27/1/20. p.17.

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