sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

AOS VIVOS: "Tá ruim p'a póbi!" ... e outros causos


Tá ruim p'a póbi!

Fazia tempo que eu não chorava daquele tantão. A causa, a comovente história de um liso na forma da lei. Coisa de póbi - pobre, pronunciado com pesar, profundo sentimento de piedade. Por que das lágrimas, de sangrar o Castanhão? O desabafo do Jair, tudo porque lhe cortaram a luz de casa, roubaram-lhe o carrinho de mão e sumiu da cômoda o dinheiro pro remédio da papeira que desceu. Tadinho do Poeta. Vou ajudá-lo botando dois pontos na rifa dum sabonete dele.
E também dando publicidade à cruz que carrega, o que pensa da liseira insustentável do ser. "Oxalá meu desabafo apiede algum coração generoso. E o camarada caia com pelo menos o do bulim". A carta do Jair é extensa, mas pincei os melhores momentos, por tópicos. "Sabe lá um acadêmico resolve estudar meu 'case malogroso' e, com base nos postulados, role teoria macroeconômica ganhadora de Nobel", avalia o liso crônico. Confiram o que está na bacia das almas do Poeta querido.

Póbi é a imagem do cão!

- É que nem lombriga - quando sai da merda, morre; basta melhorar financeiramente uma coisinha e aí perde o melhor da vida: bate a caçoleta, roubam a mulher dele, fica torto prum banda, deixa de gostar das coisas. Liso é bicho sem futuro.

Fala, pobreza!

- Todo póbi na forma da lei pode se considerar um ismoléu (esmoler dos ricos). A pobreza é o pobre em si. Como diria Nelson, trabalhar p'a póbi é pedir esmola pra dois. Pobretão, liso todo, sou uma ponta de cigarro, tipo que, puxando a cachorrinha, fará Jó chorar feito um condenado.

Televisão de póbi é forno microondas

- Adentre ao recinto do liso e sinta o aroma da lavanda da necessidade. Cachorro de póbi não morre atropelado na Treze de Maio, mas envenenado com "pozim de vrido". Brinquedo de pobre é rói-rói e cangapé. Televizinha - também conhecida por televisagem - é a Semp Toshiba do lascado.

Salgando o morto

- À guisa de ilustração, relembro anedota de Sobral em que o eleitor pediu ao então prefeito Zé Prado dinheiro pro caixão do pai que acabara de falecer. O dito gestor prometeu a grana, mas pra dali a dois dias. O póbi homem redarguiu: "Pois meu senhor, ao menos me dê um real pra comprar de sal, que é mode eu salgar o morto!"

Eu tribufu: póbi e maltrapilho

- Do ponto de vista coisológico, o póbi é um Zebedêu - Horácio, arruinado, caeba, transformado num carne de tetéu - imprestável. A liseira é tanta que até a voz fica fina. Um condenado, infeliz das costa oca. Traduzindo: sou hoje um fí duma égua, um fela. Nem na hora do póbi eu vou mais a estádio. Vivo com o caneco na ratuêra, num coqueiro medonho. Pense num liliu! Liso, leso e lôco, na lona, na pindaíba, naquela base, numa tinideira horrível...

Dinheiro pouco eu tenho muito

- Resta ao póbi morrer igual à mãe de São Pedro - sozinho. E dizer para alguém mais distiorado que ele: você é meu e o boi não lambe.
E aí, pebado, quengado, à moda as histórias de "Pedro 100 - ontem teve, hoje não tem", Jair pediu a bicicleta do vizinho emprestada e foi à casa de um amigo. Ao vê-lo na Caloi zero bala que nem dele era, sabe o que o amigo falou ao Poeta?
- É, Jair, te conheci mais pobre!
Fonte: O POVO, de 21/03/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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