Por Sofia Lerche Vieira (*)
Os ataques do bilionário
Elon Musk ao ministro Alexandre de Moraes em sua rede X, ex-Twitter, têm
mobilizado as atenções nacionais, gerando posições e interpretações diversas.
Independentemente de sua motivação ideológica, o empresário não se
manifesta apenas como arauto da liberdade de expressão e notório defensor de
interesses da direita. Advoga, sobretudo, em favor de seus próprios negócios
arquimilionários ao redor do mundo e do Brasil.
Embora possa não ser
evidente para os que não são familiarizados com o tema, a concessão de internet
para escolas brasileiras está no centro das insurgências verbais de Musk. Uma
de suas empresas, a Starlink, é provedora de internet e tem contratos de alto
valor no país. De olho no rico potencial de exploração desse lucrativo mercado,
Musk viu suas expectativas de participação em programa federal frustradas.
Advertido por reportagem
do jornal Estadão (out. 2023), o Ministério da Educação reviu sua posição
anterior de limitar a participação a empresas com 50 megabits (mbps) por
segundo de capacidade de exploração, em regiões sem fibra ótica, requisito que
somente seria preenchido pela Starlink. Quando o jogo parecia ganho, o vasto
território das escolas da Amazônia, lhe escapou por entre os dedos.
A radicalização dos
pronunciamentos do megaempresário coincide com a recente apreensão de 24
antenas da Starlink pela Polícia Federal em terras yanomanis, em ação com o
objetivo de coibir a exploração ilegal do garimpo nessas áreas. Coincide também
com a frustração de interesses em relação à exploração de veículos elétricos,
pois a Tesla, um dos mais bem sucedidos empreendimentos de Musk, também não
conseguiu ainda furar o bloqueio para ingressar no mercado brasileiro.
É de se supor que esta
coleção de frustrações se articule à posição política do megaempresário. Não é
nada neutro ou inocente seu estardalhaço. Sinal de esperteza, ou não, cabe à
sociedade brasileira monitorar interesses que possam contrariar a soberania
nacional. Internet nas escolas é um deles. Se onde há fumaça, há fogo, é
oportuno vigiar os passos desse cidadão em nossas paragens.
(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e
consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/04/24. Opinião. p.16.
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