domingo, 26 de maio de 2024

MADALENA E A RESSURREIÇÃO

Por Dom Gregório Ben Lâmed Paixão (*)

A palavra Páscoa tem sua origem na língua hebraica (Pessach), que significa passagem. Ela recorda a proeza do Eterno, ao libertar os hebreus da escravidão imposta pelo império egípcio, dando ao povo a alegria de caminhar para uma terra que lhe fora prometida, livres de toda opressão.

Para os cristãos a Páscoa tem o mesmo nome da Pessach judaica, mas com significado novo: refere-se à ressurreição de Jesus Cristo, celebrada como memorial de salvação e de passagem da morte para a vida, superando o sofrimento imposto por aqueles que usaram (e usam) o poder para oprimir, explorar, entristecer e matar.

Dentre os seguidores de Jesus, uma mulher se destaca no dia da ressurreição do Mestre: seu nome é Maria Madalena. Conhecida por sua vida péssima, Madalena carregava a força de sete demônios, segundo a afirmação do Evangelho narrado por Lucas (Lc 8,2). Sua existência era desumana e suas atitudes eram diabólicas.

Ela, então, se encontrou com Jesus. Ele resgatou sua alma dilacerada e entristecida, perdoando os seus pecados e o seu passado, abençoando o seu presente e abrindo as portas para a sua vida futura, que se tornou exemplar. A partir daí, Madalena não mais viveu pelos sentidos, mas deu sentido à sua vida.

Entretanto, a experiência da crucifixão de Jesus foi traumatizante para Madalena. Seu Rabuni (Mestre) foi morto, restando apenas a dor de uma separação traumatizante.

Uma pedra fechava o túmulo onde ele estava. Outra pedra esmagara o coração da discípula. Mas a pedra foi removida; o desespero e as lágrimas foram substituídos pela esperança de rever Jesus, redivivo.

Caberá a ela avisar aos discípulos a boa nova da ressurreição, tornando-a apóstola dos apóstolos do Senhor; anunciadora primeira da alegria pascal.

Maria Madalena nos deu a conhecer a redenção dos que experimentam o poder regenerativo da misericórdia. Discípula fiel, seu coração foi alcançado pela graça e pelo perdão divinos.

Ela deixou de procurar sua realização no túmulo de suas ilusões, afetos desordenados e ressentimentos, recomeçando a partir do Mestre e manifestando ao mundo a vitória pascal.

Desse modo, Maria renasceu pela força do amor que supera o mal e cria relações de fraternidade a partir da fé, esperança e caridade regeneradoras de vidas.

(*) Monge beneditino. Arcebispo metropolitano de Fortaleza.

Fonte: O Povo, de 14/04/2024. Opinião. p.18.

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