terça-feira, 28 de maio de 2024

ANTISSEMITISMO NO VESTIBULAR DA UECE

Por Maximiliano Ponte (*)

Não é no século passado. O ano é 2024. Na entrada de universidades de diferentes cantos do mundo observam-se ofensas contra os judeus, explícitas ou veladas, gritadas ou escritas. Na entrada de universidades americanas estudantes e professores judeus são perseguidos e hostilizados. No vestibular (meio de entrada) da Universidade Estadual do Ceará, candidatos são submetidos à propaganda antissemita. Três questões da prova, tomadas em conjunto, apresentaram aos jovens a clássica narrativa antissemita, em três atos.

1º Ato: Deslegitimização. A questão 27 aborda o êxodo do Egito. Em seu enunciado afirma que Moysés guiou o povo do Egito para "Palestina". Ocorre que a época a região era chamada de Canaã. O nome Palestina só foi adotado após a conquista romana, já no século I. Nomear de "Palestina" a Canãa bíblica, onde atualmente está o Estado de Israel, é deslegitimizar a ligação espiritual, histórica e identitária do povo judeu a sua terra ancestral.

2º Ato: Desumanização. A questão 29 tratava do tema das guerras e em particular da 2ª guerra mundial. A reposta correta, conforme o gabarito divulgado era que o extermínio de judeus, que ficou conhecido como holocausto, foi uma medida antieconômica, pois os nazistas perderam a oportunidade de utilizar a sua mão de obra escrava. Aqui se coisifica os milhares de judeus e não judeus mortos pela máquina nazista, e os desumaniza.

3º Ato: Demonização. Para acertar a questão 35, o candidato deveria definir sionismo, movimento de busca do retorno do povo judeu para sua terra ancestral, como meramente um movimento expansionista e colonialista israelense. Destaca-se que o enunciado abordava a guerra atual com o grupo terrorista Hamas, mas obviamente não citava a invasão do território israelense, nem o assassinato de mais de mil civis, muito menos o sequestro de mais de 100 pessoas, incluindo um bebê!

Desta forma, na prova apresenta-se a velha narrativa antissemita que deslegitima o direito do povo judeu ao retorno a sua terra ancestral, desumunamiza seu sofrimento e demoniza suas ações. Da universidade não espero anulação de questões, mas sim, desculpas públicas e ações no sentido de punir os responsáveis por produzir e autorizar a utilização de questões claramente antissemitas. Afinal, não podemos esquecer: antissemitismo é crime!

(*) Judeu. Médico psiquiatra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/2024. Opinião. p.18.

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