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sábado, 6 de abril de 2024

RESSARCIMENTO GOLPISTA

Há dois anos tentaram aplicar um golpe em um correntista de um banco público com o relato do uso do cartão bancário dele para compra de quatro passagens aéreas de Fortaleza para São Paulo, sacando uma quantia da ordem de quatro mil reais.

Os golpistas tinham informações bancárias privilegiadas, pois sabiam o nome correto do gerente da conta corrente e usavam o nome real de outra funcionária do banco como sendo a interlocutora naquele contato inicial feito à mando do gerente, que estaria impossibilitado de falar com ele por se encontrar em uma reunião externa.

A insistência do correntista em solicitar falar diretamente com o seu gerente de relacionamento era prontamente rechaçada pela suposta funcionária que reiterava o impedimento desse contato e que ela fora especificamente designada pela gerência para tratar da questão.

Na sequência de chamadas telefônicas, já envolvendo outros interlocutores da armação, disseram que os estelionatários seriam detidos no aeroporto de Fortaleza quando do embarque deles, que aconteceria logo mais à noite e que, para completarem os procedimentos da detenção a ser efetuada pela polícia, o banco estava encaminhando um funcionário devidamente identificado para ir ao encontro dele, a fim de recolher o cartão que, por sinal, já fora bloqueado por considerarem a compra uma transação atípica para os seus padrões de cliente do banco.

Os golpistas puseram tudo a perder quando cometeram uma ofensa vernacular. Eles garantiram ao cliente que o banco faria o “ressarciamento” dos valores sacados e que ele não teria qualquer prejuízo financeiro decorrente da malévola atuação dos ditos falsários.

Como funcionários de bancos públicos são selecionados em renhidos concursos, que demandam muitas horas de estudos preparatórios dos seus concorrentes, a quase vítima desconfiou diante de um erro tão primário perpetrado pelos golpistas e, de pronto, repeliu as investidas dos espertalhões. Aliás, o verbo ressarcir e seus vocábulos cognatos fazem parte do linguajar cotidiano dos que lidam com operações bancárias.

O exemplo acima oferece ao leitor mais uma boa razão para cuidar bem da última flor do Lácio, inculta e bela, e tão vilipendiada nos tempos hodiernos.

Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará

*Publicado In: ACADEMIA CEARENSE DE MÉDICOS ESCRITORES - ACEMES. Revista da ACEMES. Fortaleza: RDS, 2021. Nº 5. 232p. p. 165.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Haverá um falsificador genial à solta no mundo da arte?


Por  
Por Lucinda Canelas
A Sotheby’s devolveu 9,4 milhões de euros ao comprador de um retrato de Frans Hals. Motivo? Era falso. Estaremos perante “o melhor falsificador de todos os tempos” e o maior escândalo dos últimos cem anos?
O mercado da pintura antiga tem sido agitado nos últimos meses por uma série de episódios que envolvem obras falsas, ou pelo menos sob suspeita, de pintores como Parmigianino, Orazio Gentileschi, Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), e Frans Hals. No caso destes dois últimos – Vênus com um Véu e Retrato de um Homem Desconhecido – há um denominador comum: ambas pertenceram a Giulano Ruffini, identificado em junho pelo Art Newspaper, publicação especializada em notícias do mundo da arte, como sendo um colecionador francês de 71 anos que diz ter vendido por muitos milhões de euros várias obras de grandes mestres a importantes leiloeiras em Londres, Nova Iorque, Paris e Milão. Obras que agora estão sob apertado escrutínio e que poderão dar origem a um enorme escândalo.

Falso Cranach "Vênus com um véu"
Quem será o falsário ou falsários capaz de executar pinturas que passam por verdadeiras aos olhos dos galeristas e dos peritos das leiloeiras, supostamente experientes? Será que grande casas como a Sotheby’s e a Christie’s estão a desleixar-se na hora de avaliar o que se propõem vender? Perguntas como estas estão agora a ser feitas nos bastidores e nas páginas de jornais e revistas e a alimentar a imaginação dos que se habituaram a ler romances em que o mistério começa (e às vezes também acaba) numa obra de arte.
Um destes falsos, soube-se esta semana, foi transacionado pela leiloeira Sotheby’s em 2011, numa venda privada. É o retrato de um homem desconhecido, considerado uma obra de Frans Hals (1582/83-1666), um dos mais reputados pintores do chamado “Século de Ouro” holandês, ultrapassado apenas por Rembrandt e Vermeer.

Falso Frans Halls "Retrato de um homem desconhecido"
A Sotheby’s, que agora veio a público assumir o erro na atribuição do retrato, devolveu há meses ao comprador o montante que este pagara por ele – 10,6 milhões de dólares (9,4 milhões de euros) – e é bem provável que venha a processar o galerista que lhe fez chegar a obra.
Segundo o Antiques Trade Gazette, semanário para quem negoceia no mercado da arte, a Sotheby’s limitou-se a mediar a venda, que na realidade tinha como origem o galerista londrino Mark Weiss, que no passado se viu envolvido noutros escândalos mediatizados mas que já teve na sua lista de clientes instituições tão importantes como a Tate Britain e o English Heritage. O comprador será um americano cuja identidade não foi revelada.
Garante o semanário que, de momento, não há qualquer suspeita de que a leiloeira ou o galerista soubessem de antemão que estavam a negociar uma pintura falsa.

Uma Vênus falsa

A autenticidade do retrato de Hals passou a ser uma preocupação para a Sotheby’s quando, em Março, Vênus com um Véu, de Lucas Cranach, o Velho, foi retirada de uma exposição em Aix-en-Provence no âmbito de uma investigação das autoridades francesas que a colocava num lote de obras que, muito provavelmente, tinham sido falsificadas com o recurso às mais avançadas tecnologias, informou a leiloeira num comunicado esta quinta-feira. Esta obra do pintor alemão fora vendida em 2013 por sete milhões de euros ao príncipe do Liechtenstein, João-Adão II, pela galeria londrina Colnaghi, e está agora a ser examinada pela equipa do Museu do Louvre, em Paris, segundo a revista britânica de economia Money Week.
Perante o caso Cranach, a leiloeira avisou o comprador do retrato holandês. Depois, em conjunto, encomendaram uma “análise técnica de alta-qualidade que demonstrou que a obra era uma falsificação”, explicaria mais tarde a Sotheby’s à Antiques Trade Gazette. Esta “análise material”, forense, ter-se-á centrado, em boa parte, nos pigmentos usados e não deixou dúvidas. A aplicação de materiais modernos tornou evidente que a pintura não poderia ter sido feita no século XVII: “Continha materiais sintéticos que foram produzidos pela primeira vez no século XX”, lê-se ainda no referido comunicado.
Em 2011, quando a obra de Frans Hals foi vendida, fora feito um exame dendocronológico (método que permite determinar a idade do suporte com base nos padrões dos anéis da madeira nele usada) que não levantou quaisquer suspeitas quanto à antiguidade da obra. Ou seja, a madeira da pintura é antiga, mas os pigmentos com que foi executada (ou pelo menos alguns deles) não são.
Para o historiador de arte britânico Bendor Grosvenor, um especialista em pintura antiga, o caso deste falso retrato de Frans Hals é simplesmente “extraordinário”. E porquê? “O que é incrível é a qualidade e o facto de não ser uma cópia”, disse aos microfones da BBC Radio 4. “Ele [o falsário] conseguiu capturar a aura de Hals e ao mesmo tempo criar uma composição que é totalmente nova.” Se o retrato de Hals ou a pintura de Cranach são falsos, e Grosvenor acredita que é bem provável que o sejam, “estamos a lidar com o melhor falsificador de todos os tempos”.

A proveniência é tudo

O retrato de Frans Hals e a Vênus de Cranach são apenas duas das pinturas que a polícia francesa poderá vir a incluir um vasto lote de potenciais falsificações quando der por terminada a investigação. Um lote que fará parte de uma fraude que poderá ultrapassar os 220 milhões de euros e que inclui, por exemplo, uma pintura do italiano Orazio Gentileschi (1563-1639) que até já esteve exposta na National Gallery de Londres. Esta obra esteve também nas mãos do homem que tinha o retrato do pintor holandês – Mark Weiss.
O galerista Bob Haboldt, ouvido pela edição de domingo do tablóide britânico Daily Mail, que fez eco da investigação do francês Journal des Arts a propósito da Vénus de Cranach, publicada em Setembro, afirmou ser bem possível que a operação das autoridades de Paris venha a expor uma lista de falsos que pode chegar às 25 obras. “Este é o maior escândalo na arte dos últimos 100 anos”, disse Haboldt, que tem representações em Paris e Nova Iorque, referindo-se a “falsificações altamente sofisticadas”.
O que este caso vem demonstrar, disse à agência de notícias Bloomberg Richard Feigen, um outro negociante de pintura antiga que trabalha a partir de Nova Iorque, é que o grau de sofisticação dos falsários contemporâneos é cada vez maior, o que deve fazer com que as leiloeiras e os seus avaliadores sejam cada vez mais atentos e exigentes. “É um dos maiores escândalos de que me lembro”, acrescentou o galerista que tem loja aberta há 60 anos. “Não há nada de que me recorde a esta escala e com esta variedade de artistas.” O Cranach e o Gentileschi (David Contemplando a Cabeça de Golias) foram-lhe oferecidos como possibilidade de negócio, mas Feigen, que em janeiro vendeu outra obra do pintor italiano por 30,5 milhões de dólares (27,2 milhões de euros) ao J. Paul Getty Museum, não chegou sequer a ter oportunidade de os avaliar.
Falso Gentileschi "Davi contemplando a cabeça de Golias".
Não será a primeira vez que o mundo se vê confrontado com um falsificador talentoso – basta pensar em Wolfgang Beltracchi e nas pinturas que fez e que passaram como originais de Max Ernst e foram parar à colecção do Museu Metropolitan, em Nova Iorque –, mas o que estes episódios recentes vêm sublinhar é que, quando se trata de decidir o que fazer perante a possibilidade de comprar uma obra de arte, antiga ou não, “a proveniência é tudo”, escreveu recentemente o editor de arte da BBC, Will Gompertz. Para que uma obra venha com garantia, é preciso saber quem foram os seus donos no passado e o que fizeram com ela no que à conservação e ao restauro diz respeito. “As falsificações são bem mais comuns do que muitos no mercado da arte estão dispostos a admitir em público.
O galerista Bob Haboldt concorda: “É difícil identificar estas obras como falsas, mas a falta de informações credíveis quanto à sua proveniência e de referências [a elas] nas numerosas publicações sobre estes artistas deviam ter levantado suspeitas junto dos negociantes.
Haboldt acredita que a lista das obras envolvidas no escândalo será revelada em breve. As autoridades francesas estarão a investigar uma rede de falsários italiana, escreve o Mail on Sunday, avançando com a possibilidade de o francês Giuliano Ruffini ser uma peça-chave em todo o esquema. É que o Hals e o Cranach não foram as únicas pinturas vendidas por este homem que continua a dizer ser apenas um coleccionador, não um especialista. Ao Art Newspaper chegou mesmo a lembrar que não apresentara nenhuma das obras que vendeu como sendo verdadeira.
Fonte: UOL Notícias, 10/10/2016.
 

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