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Faleceu neste sábado (30/08), aos 88 anos, em decorrência
de uma pneumonia, o escritor Luís Fernando Veríssimo, quando se encontrava
internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre Sua vida e sua múltipla
obra deixaram um legado imenso para a cultura brasileira. Ele era muito mais do
que um escritor; era um cronista agudo do cotidiano, um humorista refinado e um
dos maiores expoentes da literatura contemporânea do país.
Era filho do também célebre escritor Érico Veríssimo, que
escreveu a saga da terra gaúcha, "O Tempo e o Vento".
Uma vida dedicada às letras e ao humor
Nascido em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, Luís
Fernando teve uma vida ligada à literatura desde a infância. Passou parte de
sua adolescência nos Estados Unidos, onde seu pai lecionou, e retornou ao
Brasil para trabalhar como jornalista e, mais tarde, se dedicar à literatura.
Era conhecido por sua personalidade reservada e por sua
mente brilhante, que produzia algumas das críticas sociais mais perspicazes e
engraçadas da imprensa nacional.
A múltipla obra: muito além das crônicas
A genialidade de Veríssimo se expressou em diversas
frentes:
Crônicas e Humor. Sua
coluna de jornal no "Zero Hora" era uma das mais lidas e aguardadas
do Brasil. Coleções como "O Analista de Bagé" e "Comédias da
Vida Pública" são antológicas. E seus personagens, como a Velhinha de
Taubaté, Ed Mort e o Analista de Bagé, se tornaram ícones da cultura
brasileira.
Romances e Contos. Sua ficção nestes gêneros é igualmente
poderosa. Romances como "O Clube dos Anjos" (sobre um grupo de
gourmets que se reúne para jantares finos) e "Borges e os Orangotangos
Eternos" (uma mistura de romance policial e ensaio literário) demonstram
sua erudição e capacidade narrativa.
Cartuns e Humor Gráfico. Também
era um talentoso cartunista. Suas tiras, muitas vezes mudas, com traços simples
e situações absurdas, expunham perfeitamente suas ideias. A série "As
Cobras" é um exemplo disso.
Música e Outras Influências. Um amante declarado de jazz, tema que frequentemente
permeava suas crônicas. Foi um músico (saxofonista) que dialogava com a banda
"Jazz 6" em que tocava.
Seu legado e sua voz
O humor de Luís Fernando Veríssimo nunca foi apenas para
fazer rir. Era um instrumento de crítica social e política. Ele usava o
absurdo, a ironia e o nonsense para dissecar as hipocrisias, os costumes
e os dilemas da vida moderna no Brasil. Sua capacidade de observar o óbvio e
extrair dele uma conclusão hilária e profundamente verdadeira era seu dom
maior.
Sua morte é uma perda irreparável. Ele era um farol de
inteligência, lucidez e humor em tempos muitas vezes sombrios. Luís Fernando
Veríssimo deixa uma obra vasta que continuará a fazer rir, pensar e encantar as
gerações atuais e futuras.
Relembre algumas de suas frases marcantes
Escrever não me dá prazer, gosto mesmo é de soprar
saxofone.
Não gosto que me imponham coisas, e a velhice é uma
imposição, uma prepotência do tempo. Sou contra.
Se o mundo está correndo para o abismo, chegue para o
lado e deixe-o passar.
Vou morrer sem realizar o meu grande sonho: não morrer
nunca.
Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a
vida e muda todas as perguntas.
Depois de uma certa idade, é temerário fazer aniversário.
Que agonia! Todo "parabéns" soa, mesmo dito numa boa, como ironia.
Conhece-te a ti mesmo, mas não fique íntimo.
(*) Médico
pneumologista, escritor e blogueiro.
Postado
por Paulo Gurgel no Blog Linha do Tempo em 31/08/2025.
https://blogdopg.blogspot.com/2025/08/verssimo.html
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