Por Maurício Filizola (*)
No Brasil, os caminhos que deveriam levar à
cura estão sendo desviados. E não por falta de ciência, tecnologia ou vontade
de viver — mas pela ação de criminosos que descobriram, nos medicamentos, uma
nova mina de ouro. O roubo de cargas não é apenas um problema logístico ou
financeiro. É uma ameaça à saúde pública, um golpe direto no que temos de mais
sagrado: a vida.
Criminosos têm visado caminhões que
transportam medicamentos — e também farmácias, focando especialmente nos
produtos de alto custo, como os termolábeis, que exigem refrigeração constante.
Uma vez fora do sistema regulado, esses produtos perdem eficácia, ganham risco
e deixam de ser cura para se tornarem veneno.
Imagine uma mãe comprando um antibiótico
para o filho com febre alta, sem saber que aquele frasco passou dias sob o sol
— ou pior, foi adulterado. Ou o idoso que, com dificuldade, adquire um remédio
para o coração em um ponto de venda clandestino, acreditando ter feito um bom
negócio. É a saúde escorrendo pelo ralo da desinformação e da falsa economia.
Os prejuízos financeiros existem, claro.
Distribuidoras aumentam os custos com segurança, os preços sobem, e todos
pagamos mais caro. Mas o maior prejuízo não se mede em dinheiro: está
no risco que cada frasco roubado carrega, na fragilidade de um
sistema que tenta manter a confiança da população.
É por isso que, mais do que nunca,
precisamos reforçar um valor simples, mas poderoso: confiança. E onde ela mora?
Nas farmácias que você conhece. Naquele balcão onde é chamado pelo nome, onde o
farmacêutico conhece seu histórico, orienta, confere, cuida.
Não é exagero dizer: farmácia é extensão da
casa de quem cuida da saúde.
Tudo começa com a prescrição médica correta
— um diagnóstico bem feito — e segue com a escolha do local onde o medicamento
será adquirido. Comprar medicamentos só em farmácias autorizadas é mais do que
precaução: é uma escolha ética. É um pacto silencioso com a vida. E quando você
opta por aquela farmácia onde já construiu relacionamento, onde o atendimento é
humanizado e o cuidado e acolhimento é contínuo, você está dizendo: Eu escolho
Segurança. Eu escolho Saúde.
A Anvisa e as Vigilâncias Sanitárias fazem
sua parte com fiscalização. As distribuidoras investem em rastreamento,
escoltas, análise de risco. Mas a barreira mais poderosa contra o crime ainda é
a consciência coletiva. A farmácia de confiança é o último elo — e o mais
próximo da população. Ela merece ser valorizada.
Como farmacêutico e empreendedor, vejo de
perto os efeitos da criminalidade nesse setor. Mas também vejo, com esperança,
a força de um relacionamento construído ao longo dos anos entre farmácia e
comunidade.
É nesse vínculo que mora a verdadeira
proteção.
(*) Diretor da
Confederação do Comércio. Articulista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/08/25. Opinião, p.17.
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