quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O território caririense e os desafios das políticas públicas

Por Rita Fabiana Arrais (*)

O estudo mais recente divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) traz dados relacionados às desigualdades territoriais de renda no Ceará, ao mesmo tempo em que estimula uma reflexão a respeito das discrepâncias quanto ao maior valor médio de renda mensal de pessoas responsáveis pelo domicílio em cidades da mesma região.

O estudo tem como base o Censo do IBGE de 2022 e o salário mínimo nacional deste ano no valor R$ 1.212,00.

A Grande Fortaleza segue no topo das regiões com maior renda média mensal (R$ 2.609,36), enquanto a Região do Cariri apresenta-se em segundo lugar (R$ 1.570,30).

Buscando analisar de forma sintética o distanciamento (em relação à renda disposta na pesquisa) entre as cidades de Crato (R$ 1.910,24), Barbalha (R$ 1.896,87) e Juazeiro do Norte (R$ 1.867,85) comparando-as as demais cidades da região, constata-se não só um abismo financeiro, mas também uma ineficácia (que pode ser superada) de políticas públicas territoriais propostas ao longo de décadas na região.

Para exemplificarmos melhor, as cidades de Araripe (R$ 1.098,46), Santana do Cariri (R$ 1.067,71) e Caririaçu (R$ 1.150,97) revelam valores de renda média mensal abaixo do salário nacional do ano de 2022.

A escolha dessas três cidades não se dá apenas pela questão financeira, mas também pelo fato de se localizarem próximas a um grande centro urbano com ascensão econômica no Nordeste, estamos falando de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Contudo essa aproximação não promove melhorias no nível de renda das populações locais.

Ainda é comum na região que essas cidades sejam apenas dormitórios para alguns de seus habitantes, pois estes deslocam-se para o centro econômico a fim de encontrarem oportunidades de trabalho e melhores salários que promovam crescimento profissional e desenvolvimento intelectual.

Assim, ao mesmo tempo em que encontram espaços para construírem suas carreiras, impulsionam a economia local ao serem consumidores potenciais do mercado, injetando dinheiro na economia num processo cíclico de ganhos e gastos.

O Cariri é um território rico não só da diversidade cultural, mas traz aspectos políticos e econômicos que moldam os espaços ocupados por seus atores sociais. De acordo com Saquet (2009) "[...] território significa articulações sociais, conflitos, cooperações, concorrência e coesões". Nesse sentido, torna-se menos complicado compreendermos as deficiências das políticas públicas territoriais.

É evidente que não só o Estado territorializa suas políticas. O setor privado executa recortes espaciais priorizando retornos volumosos aos investimentos realizados, impactando a economia e a longo prazo produzindo uma desigualdade, considerável, na renda dos caririenses.

(*) Economista.

Fonte: O Povo, de 1/08/25. Opinião. p.17.

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