Por Rita Fabiana Arrais (*)
O estudo mais
recente divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
(Ipece) traz dados relacionados às desigualdades territoriais de renda no
Ceará, ao mesmo tempo em que estimula uma reflexão a respeito das discrepâncias
quanto ao maior valor médio de renda mensal de pessoas responsáveis pelo
domicílio em cidades da mesma região.
O estudo tem como
base o Censo do IBGE de 2022 e o salário mínimo nacional deste ano no valor R$
1.212,00.
A Grande
Fortaleza segue no topo das regiões com maior renda média mensal (R$ 2.609,36),
enquanto a Região do Cariri apresenta-se em segundo lugar (R$ 1.570,30).
Buscando analisar
de forma sintética o distanciamento (em relação à renda disposta na pesquisa)
entre as cidades de Crato (R$ 1.910,24), Barbalha (R$ 1.896,87) e Juazeiro do
Norte (R$ 1.867,85) comparando-as as demais cidades da região, constata-se não
só um abismo financeiro, mas também uma ineficácia (que pode ser superada) de políticas
públicas territoriais propostas ao longo de décadas na região.
Para
exemplificarmos melhor, as cidades de Araripe (R$ 1.098,46), Santana do Cariri
(R$ 1.067,71) e Caririaçu (R$ 1.150,97) revelam valores de renda média mensal
abaixo do salário nacional do ano de 2022.
A escolha dessas
três cidades não se dá apenas pela questão financeira, mas também pelo fato de
se localizarem próximas a um grande centro urbano com ascensão econômica no
Nordeste, estamos falando de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Contudo essa
aproximação não promove melhorias no nível de renda das populações locais.
Ainda é comum na
região que essas cidades sejam apenas dormitórios para alguns de seus
habitantes, pois estes deslocam-se para o centro econômico a fim de encontrarem
oportunidades de trabalho e melhores salários que promovam crescimento
profissional e desenvolvimento intelectual.
Assim, ao mesmo
tempo em que encontram espaços para construírem suas carreiras, impulsionam a
economia local ao serem consumidores potenciais do mercado, injetando dinheiro
na economia num processo cíclico de ganhos e gastos.
O Cariri é um
território rico não só da diversidade cultural, mas traz aspectos políticos e
econômicos que moldam os espaços ocupados por seus atores sociais. De acordo
com Saquet (2009) "[...] território significa articulações sociais,
conflitos, cooperações, concorrência e coesões". Nesse sentido, torna-se
menos complicado compreendermos as deficiências das políticas públicas territoriais.
É evidente que
não só o Estado territorializa suas políticas. O setor privado executa recortes
espaciais priorizando retornos volumosos aos investimentos realizados,
impactando a economia e a longo prazo produzindo uma desigualdade,
considerável, na renda dos caririenses.
(*) Economista.
Fonte: O Povo, de 1/08/25. Opinião. p.17.
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