Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Assumir a direção do Mosteiro dos
Jesuítas, em Baturité, foi como escutar um chamado vindo das montanhas: convite
à escuta, à memória e à transformação. Essa casa centenária, erguida na serra
úmida do interior cearense, guarda mais do que pedras e paredes. Ela preserva
histórias de fé, de missão, de silêncio fecundo. Aqui, o tempo parece
desacelerar, a arquitetura fala, e o espírito encontra repouso.
Fundado em 1923, o Mosteiro é marco da presença
missionária da Companhia de Jesus no Ceará. A escolha por Baturité não foi
acaso: o clima ameno, a natureza densa e o relevo serrano fizeram do local um
refúgio ideal para retiros, formação de noviços e aprofundamento espiritual. Ao
cruzar seus portões, muitos sentem que adentram um território sagrado, onde a
alma respira em outra frequência.
O Mosteiro é, antes de tudo, casa de
oração. No silêncio dos corredores, nas paredes marcadas por gerações de padres
e irmãos, pulsa um coração espiritual que convida ao recolhimento. Aqui, a fé
não é ruído – é presença. A espiritualidade inaciana, com sua ênfase no
discernimento e no encontro pessoal com Deus, transforma cada visita em
experiência de profundidade.
Mas o Mosteiro também é cultura viva.
Suas bibliotecas guardam preciosidades. Seus corredores, cheios de ecos,
testemunham décadas de arte, educação e saber. Temos buscado renovar essa
vocação com encontros, exposições e rodas de conversa. O passado aqui não é
ruína – é fermento para o presente.
E é, sobretudo, um espaço social.
Acolher é missão diária. Jovens em busca de sentido, famílias em retiro,
corações cansados da pressa: todos encontram aqui abrigo. Sob as árvores
centenárias, a alma se recompõe. Com trilhas, oficinas e ações junto à
comunidade, vivemos o apelo inaciano de “em tudo, amar e servir”.
Hoje, o Mosteiro é também um dos
destinos mais significativos do Maciço de Baturité. Visitado por romeiros,
religiosos e estudiosos, tornou-se símbolo de fé, resistência, acolhimento e
beleza. Em tempos de ruído, é santuário de silêncio. Em tempos de pressa,
ensina a pausa. Seus três pilares – religioso, cultural e social – não
competem, mas se entrelaçam. E juntos fazem desta casa um farol de humanidade
no coração do Ceará.
(*) Sacerdote
jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de
Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 26/07/2025. Opinião. p.18.
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