Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
As atividades desenvolvidas
por um médico, guardam muita semelhança com aquelas executadas pelos
economistas. Nas duas são, relativamente, mais fáceis os diagnósticos e as
terapêuticas, isto é, a identificação de uma doença ou problema e a
determinação dos meios adequados para superação. Todavia, a grande dificuldade
para encontrar uma solução eficaz está em definir a posologia, ou seja, a
dosagem correta do medicamento ou da política econômica, não implicando em
efeitos colaterais negativos. Muitas vezes um paciente toma uma dose de
dipirona para combater uma dor de cabeça e o resultado é uma agressão ao fígado
ou, de forma descontrolada, ingere antibióticos para debelar uma infecção
provocando resultados indesejáveis na flora intestinal. Por sua vez, na economia,
ao adotar-se uma política de combate à inflação, mediante a elevação da taxa de
juros, via de regra, o resultado poderá ser uma expansão do nível de desemprego
ou então manter um câmbio fixo poderá implicar numa queda de competitividade
dos bens e produtos de exportação, com reflexos não interessantes no balanço de
pagamentos. Dessa forma, tudo tem que ser conduzido de forma racional,
observando as dosagens e as políticas corretas. Além dos efeitos colaterais,
tanto os médicos como os economistas devem observar os fatores externos ou as
possíveis variáveis aleatórias, pois podem causar impactos não esperados. O
grande desafio desses profissionais, em última análise, é, de um lado,
conciliar objetivos conflitantes, o que não é fácil, de outro, determinar com
precisão a posologia adequada. A rigor, ambos os profissionais trabalham com a
vida humana. O primeiro de uma forma mais direta e o outro de uma maneira mais
ampla. Assim, diz-se que quando um médico se engana, a consequência,
geralmente, é no varejo; por sua vez, quando o economista erra na formulação de
uma diretriz, o efeito é no atacado. Um remédio prescrito de forma inadequada
pode ser fatal. Já uma política salarial injusta, por exemplo, definida para um
país, poderá provocar resultados negativos que atingem uma grande quantidade de
pessoas.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário