terça-feira, 9 de setembro de 2025

POSOLOGIA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

As atividades desenvolvidas por um médico, guardam muita semelhança com aquelas executadas pelos economistas. Nas duas são, relativamente, mais fáceis os diagnósticos e as terapêuticas, isto é, a identificação de uma doença ou problema e a determinação dos meios adequados para superação. Todavia, a grande dificuldade para encontrar uma solução eficaz está em definir a posologia, ou seja, a dosagem correta do medicamento ou da política econômica, não implicando em efeitos colaterais negativos. Muitas vezes um paciente toma uma dose de dipirona para combater uma dor de cabeça e o resultado é uma agressão ao fígado ou, de forma descontrolada, ingere antibióticos para debelar uma infecção provocando resultados indesejáveis na flora intestinal. Por sua vez, na economia, ao adotar-se uma política de combate à inflação, mediante a elevação da taxa de juros, via de regra, o resultado poderá ser uma expansão do nível de desemprego ou então manter um câmbio fixo poderá implicar numa queda de competitividade dos bens e produtos de exportação, com reflexos não interessantes no balanço de pagamentos. Dessa forma, tudo tem que ser conduzido de forma racional, observando as dosagens e as políticas corretas. Além dos efeitos colaterais, tanto os médicos como os economistas devem observar os fatores externos ou as possíveis variáveis aleatórias, pois podem causar impactos não esperados. O grande desafio desses profissionais, em última análise, é, de um lado, conciliar objetivos conflitantes, o que não é fácil, de outro, determinar com precisão a posologia adequada. A rigor, ambos os profissionais trabalham com a vida humana. O primeiro de uma forma mais direta e o outro de uma maneira mais ampla. Assim, diz-se que quando um médico se engana, a consequência, geralmente, é no varejo; por sua vez, quando o economista erra na formulação de uma diretriz, o efeito é no atacado. Um remédio prescrito de forma inadequada pode ser fatal. Já uma política salarial injusta, por exemplo, definida para um país, poderá provocar resultados negativos que atingem uma grande quantidade de pessoas.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

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