Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Desde muito jovem cultivo o hábito de
pensar, de correr o mundo em histórias, em me projetar noutros tempos. Certas
vezes, cheguei a escrevê-las em quadrinhos, impulsionado pelos autores da minha
época, pela literatura, pela música e poesia, ou mesmo por escutar. Escutar
nossos pais, tios, avós e parentes nas suas realidades e discussões sobre o
mundo vindouro.
Nesse contexto, arrisco-me numa análise
intuitiva dos dias atuais, consciente do que isso representa, um acúmulo de
informações codificadas ao longo dos anos, quiçá de gerações. Pois bem, esse
tal mundo VUCA, de transformações instantâneas, de realidades fugazes, são
demonstrações inequívocas da atual transição.
Esse big brother generalizado das mídias
sociais, uma inundação de informações e exposições da vida privada, transmitem
essa beligerância por expor nossas contradições, nossos medos e até nossas
pulsões. Mas, também, propiciará uma reflexão sobre a fragilidade da existência
humana.
Em tudo expomos um mundo em mais uma
transformação, dando espaço para adivinhações, projeções e ficções sobre o que
há de acontecer.
A comprovação de parte do descrevo está na
conformação da nova realidade do núcleo familiar e dos relacionamentos.
Impulsionados pela mudança constante de valores, de profissões, de cidades e de
línguas, será preciso assumir um ser mais mutante.
Era, assim, previsível o desgaste das
instituições, dos órgãos de representação e de poder.
Passamos a assistir a líderes fragilizados pela
sua humanidade, seu comportamento comum e controverso. Já não representam o
ideal imaginário dos mitos de outrora, são de carne e osso.
A falta de representatividade é
demonstração óbvia das implicações dessa exposição, pois a nudez do sistema e
das pessoas atraem conflitos e desesperança. Põe em dúvida o sistema vigente, a
democracia da crise, incapaz por ser demasiadamente humana.
No entanto, estamos no caminho de mais um
futuro. E a democracia do futuro, da inteligência de dados e da transparência resgatará
a credibilidade, não por expandir ou acrescer recursos ao parlamento, mas pela
redução de seus custos e pelo aumento da eficiência.
A democracia será direta, à semelhança do
que aconteceu no passado e que acontece nos cantões da Suíça. O governo se
obrigará a expor seus problemas de forma clara e verdadeira, o julgamento
acontecerá em plebiscitos digitais. Caberá aos poucos parlamentares organizar
as pautas baseadas nos diagnósticos de comissões de análise técnica.
O mundo terá uma governança única voltada
para resolver distorções econômicas e para promover competências, direitos e
obrigações entre os países.
Haverá recursos adequados para a democracia
do futuro, nessa nova ordem o estado não será nem grande nem pequeno, será do
tamanho necessário para garantir eficiência na aplicação dos recursos.
Sei que parece até um sonho, mas é o
caminho inexorável do conhecimento e da evolução, saber lidar com nossa
condição humana, entre acertos e erros, e, entre o que é atávico, dentro das
condições contemporâneas.
Não haverá somente um líder, esse não será
um ser perfeito, mas serão milhares, sucessivamente, determinados,
transitoriamente, a cumprir sua missão.
Seremos homens a busca de mudar
diariamente, com a convicção de que um hábito pode se transmitir geneticamente
para as próximas gerações.
É assim que eu penso!
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/08/2025. Opinião. p.21.
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